quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Diario de Pernanbuco

Transplante: crianças como prioridade
Nova lei // Se o doador tiver a mesma faixa etária, menores de 18 anos serão os primeiros a receberem órgãos
De criança para criança, o presente da vida. Hector Costa tinha só 11 anos quando foi submetido a um transplante. Tão jovem e já doente renal crônico, havia passado um ano e meio em diálise peritoneal e três meses em hemodiálise, tratamentos que cumprem a função dos rins, de eliminação de substâncias tóxicas. Foi quando, em um momento de dor profunda, uma família resolveu doar os órgãos de uma menina de sete anos que havia morrido atropelada. Hector foi presenteado com um rim. O garoto hoje é adulto. Tem 32 anos e é ator e produtor cultural. Cresceu e permanece até hoje com aquele rim, da criança de sete anos. Nunca mais fez hemodiálise. Leva uma vida normal. A partir desta semana, todos os jovens com menos de 18 anos terão a mesma chance de Hector. Terão prioridade no transplante quando o doador tiver a mesma faixa etária.
A mudança faz parte das novas regras incluídas no Regulamento Técnico do Sistema Nacional de Transplantes, que foi assinado pelo ministro da Saúde José Gomes Temporão e aguarda publicação no Diario Oficial, o que possivelmente ocorrerá hoje.
E terá impacto, principalmente, nos transplantes de rins, que hoje levam em consideração, acima de tudo, a compatibilidade entre a identidade genética - o HLA (anticorpo leucocitário humano) de doador e receptor.
Por esse critério, as crianças saem perdendo na disputa por um motivo simples: são minoria. Em Pernambuco, há 1.956 pessoas na lista de espera por um rim. Apenas cerca de 20 deles têm menos de 18 anos. Com a mudança, o órgão (não apenas o rim) de um doador com menos de 18 anos só beneficiará um adulto caso não seja possível doá-lo a um jovem. De acordo com a coordenadora da Central de Transplantes de Pernambuco, Zilda Cavalcanti, é mais comum fazer transplante de fígado e coração de doador menor de 18 anos para outro jovem na mesma faixa etária por causa dos critérios de peso e altura, que precisam ser compatíveis.
Sem contar que, em fígado, é levado em consideração um indicador de gravidade numérico que é mutiplicado por três quando o paciente é criança, colocando-a como prioridade em relação ao adulto.
Segundo o chefe da Unidade Renal Pediátrica do Instituto de Medicina Integral (Imip), José Pacheco, a prioridade das crianças está na pauta há muito tempo. Chegou a ser realidade em Pernambuco, antes da mudança de escolha pelo critério HLA, o que teve sério impacto no transplante para crianças. "Durante um ano, a gente não conseguiu transplantar sequer um órgão de doador cadáver (para criança)", disse Pacheco. Há cerca de um ano, em Pernambuco, os jovens que dependem de transplante renal voltaram a ter prioridade quando o doador tem menos de 18 anos, graças a um acordo assinado por todos os transplantadores do estado, com anuência da central transplantadora do estado.
Mas, segundo Zilda Cavalcanti, isso acontece de forma excepcional. "Não é rotina por precisar de regulamentação", disse Zilda. Mas agora vai ser. E os motivos para a mudança são muitos. "Se a criança recebe o rim de um indivíduo mais jovem, a sobrevida desse órgão vai ser maior do que se pegar o rim de uma pessoa de 50 anos", afirmou Pacheco. E quanto menos tempo em diálise a criança passar, menos comprometimentos de crescimento e desenvolvimento ela terá.

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