quarta-feira, 14 de novembro de 2012

ATX-BA - UTILIDADE PÚBLICA - Agência de Notícias da AIDS

Falhas nos exames NAT para detecção do HIV e da hepatite C são graves, consideram ativistas

Durante o congresso da Sociedade Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), realizado entre os dias 8 e 11 de novembro no Rio de Janeiro, médicos alertaram que o teste de sangue fabricado pelo governo brasileiro (NAT) e que está sendo testado no Sistema Único de Saúde para a detecção precoce do vírus HIV e da hepatite C tem falhas. A informação ganhou destaque no jornal Folha de S.Paulo nesta terça-feira, 13 de novembro.
O objetivo do teste NAT (ácido nucleico) é reconhecer o material genético do vírus e detectar a sua presença mais cedo no organismo do que o Elisa, garantindo uma melhor segurança no sangue usado nas transfusões
.

No entanto, segundo explicou o diretor da ABHH e médico do hemocentro da Santa Casa de São Paulo, Dante Langhi Junior, à Folha de S.Paulo, “a gente testa com o Elisa e dá positivo (para aids ou hepatite), depois testa com o NAT do governo e dá negativo. Volta a testar a mesma amostra com o NAT comercial e dá positivo. O teste do governo não garante a segurança a que ele se propõe."
Para o presidente do Fórum de ONG/Aids do estado de São Paulo, Rodrigo Pinheiro, o problema é grave. “Um fator que já tínhamos conseguido diminuir no Brasil é a transmissão do HIV por meio de sangue contaminado, mas depois desta informação voltaremos a nos preocupar com isso”, disse.

Os médicos da ABHH que alertaram para o problema, no entanto, ressaltam que não há registros de transmissões de doenças devido às falhas do NAT.
Mesmo assim, Renato da Matta, da direção do Fórum de ONGs/Aids do estado do Rio de Janeiro, questiona esta informação. “Que certeza temos disso? Preocupa me sim que tenha havido algum contágio de HIV por conta de sangue contaminado”, comentou. “Já era para eles (governo) terem suspendido imediatamente estes testes”, acrescentou.
Márcia Leão, do Fórum do ONGs/Aids do Rio Grande do Sul, tem dúvidas sobre como o governo fará para que
o NAT efetivamente apresente um resultado satisfatório. “Estão gastando para implementar um teste que falha, enquanto que esse dinheiro poderia estar sendo utilizado para outras ações contra a epidemia”, comentou.
As falhas no exame apontadas pela ABHH também preocupam Jeová Pessin Frogoso, coordenador do Grupo Esperança, que orienta portadores de hepatite C e familiares. “Desde 1993, quando melhoraram os processos de testagem do sangue, nossa preocupação sobre a transmissão do vírus C da hepatite passou a ser mais sobre o compartilhamento de alicates, por exemplo, mas esta informação pode representar um retrocesso”, comentou.
Jeová é um dos organizadores do X Encontro Nacional de ONGs de Hepatites Virais e Transplantes Hepáticos, que ocorrerá em Santos, litoral de São Paulo, de 15 a 17 de novembro. O recente alerta sobre as falhas do NAT será levado pelo ativista para debates no Encontro.
Ministério nega falhas


A Assessoria de Imprensa do Ministério da Saúde informa que a qualidade e eficácia do exame NAT sendo testado na rede pública foram aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

Segundo a Pasta, não há reclamação oficial dos hemocentros onde o novo exame está sendo testado nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Santa Catarina, Minas Gerais, Ceará, Paraná, Amazonas, Pará e no Distrito Federal.

Para o jornal Folha de S.Paulo, o coordenador da área de sangue e hemoderivados do Ministério da Saúde, Guilherme Genovez, disse que o teste está em fase de desenvolvimento e que os problemas são "totalmente solucionáveis".
"Temos soluções tecnológicas e ajustes, mas nenhum problema que invalide o teste", afirmou. Segundo o jornal, ele garantiu ainda que esses ajustes acontecerão até a publicação da portaria, que tornará o teste obrigatório, prevista para sair até o final do mês.

A Assessoria do Ministério ressalta à Agência de Notícias da Aids que a data da publicação da portaria obrigando o teste ainda não está definida.

Redação da Agência de Notícias da Aids