quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Jornal de Notícias

Mais de três mil pessoas à espera de transplantes
00h30m
ALEXANDRA SERÔDIO

Portugal, no topo das tabelas europeias e mundiais de transplantes, luta contra a escassez de dádivas.
Em Portugal ainda se morre à espera de um órgão. Salvar cada vez mais vidas obriga a uma maior sensibilização para a doação, numa altura em que a escassez é grande e as necessidades aumentam cada vez mais.
Estamos no topo das listas europeias e mundiais no que toca a transplantes. Mas em Portugal, onde existem mais de três mil pessoas à espera de transplantes (2253 aguardam um rim), já morreram, este ano, 11 doentes à espera de um órgão que lhes salve a vida. Os números frios foram revelados em Fátima, pela coordenadora Nacional da Unidade de Colheitas da Autoridade para os Serviços de Sangue e Transplantação, durante o XXII Encontro Nacional da Pastoral da Saúde.






Segundo Maria João Aguiar, este ano e "dos 45 pedidos urgentes de fígado, apenas foi possível responder a 30 doentes. E dos 26 pedidos de coração, apenas se conseguiram 13". Afirmando que "muitos doentes morrem em lista de espera", a médica alerta para o aumento crescente da procura.
A esperança, contudo, é grande e a sensibilização para a doação "é a melhor forma de ajudar". Em Portugal, desde 1969 - altura em que o médico Linhares Furtado fez o primeiro transplante - e até 2008, já foram transplantados 21.290 doentes, a maioria dos quais doentes renais (8139).
Domingos Machado, coordenador da Unidade de Transplantação Renal do Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, lembra que o "dever de cuidar não cessa com a morte de um doente" e defende que as famílias de um dador possam ser "agraciadas".
"Nos Estados Unidos já se pagam as despesas dos funerais ou criam-se monumentos funerários e informáticos para agradecer às famílias terem permitido a doação de órgãos", disse. Uma questão que, assume, "não é pacifica, mas que em muitos locais ajudou a colmatar a escassez de órgãos".
Os médicos continuam a apostar na sensibilização para doação de órgãos, em vida e pós-morte. Falam de "um Portugal solidário" que "quando é preciso" diz presente. É o caso dos transplantes de medula óssea, cujas campanhas a favor de crianças doentes fizeram disparar o número de dadores em Portugal.
Até ao final do ano, Helder Trindade assegura que serão 190 mil, número que "continuará a crescer em 2010". O director do Centro Nacional de Dadores de Células de Medula Óssea, Estaminais ou de Sangue do Cordão diz que são as mulheres que lideram a lista de dadores (60%) e que a maioria tem entre 26 e 35 anos.
A recolha de sangue também tem vindo a aumentar, fruto das campanhas que se têm realizado. Neste momento existem 40 em cada mil pessoas a doar sangue.
Outra das realidades dos transplantes prende-se com a criopreservação das células do cordão umbilical. No país existe um banco publico - "importante para tratar de doenças particularmente graves da primeira infância" - mas que, segundo a bióloga Ana Sofia Carvalho, "precisa urgentemente de ser incentivado".
Segundo a directora do Instituto de Bioética da Universidade Católica, "25 amostras por ano é muito pouco para um banco público", defendendo que "tem de haver vontade política em dinamizar estes bancos públicos".
Na Europa foram feitos com sucesso 20 mil transplantes com células do cordão umbilical.