quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Diário do Nordeste

ESTE ANO NO CEARÁ
Doze pessoas morreram na fila por um fígado

Apesar da limitação de doadores, o HU é o 3º em transplantes no País e o 1º do Norte e Nordeste, com 48 cirurgias este ano. Embora os americanos sofram com a falta de fígados para transplante, os hospitais conseguem captar muito mais órgãos do que no Brasil. "Lá, são cerca de 25 a 30 doadores por milhão de habitantes por ano. No Brasil, apenas seis. No Ceará são nove, acima da média nacional", revela Huygens Garcia.Atualmente, 138 pacientes estão na fila de transplante de fígado no Ceará.
Nesses casos, o tempo é o maior inimigo, principalmente quando o diagnóstico é hepatite fulminante. "Se o paciente não receber o fígado em uma semana, a taxa de mortalidade é de 100%", explica o especialista em transplantes.
A doação do fígado de um paciente que teve morte encefálica no Instituto Dr. José Frota (IJF) fez a diferença entre na vida de uma adolescente de 14 anos. Acometida de hepatite fulminante, ela estava internada no Hospital Infantil Albert Sabin. "O caso da garota (ele não revelou o nome da paciente) não depende de fila, foi prioridade regional. O transplante de urgência ocorreu com sucesso".Para ele, só existe uma maneira de aumentar o número de transplantes no Brasil, mediante uma maior quantidade de doadores por morte encefálica. "Precisamos conscientizar as famílias sobre a morte cerebral. Uma vez constatada, é irreversível. E doar seria um gesto de nobreza que beneficiaria muitas pessoas que necessitam de um fígado, rins, córneas, coração, por exemplo", enfatiza.
O Hospital Walter Cantídio realizou o primeiro transplante de fígado em maio de 2002. No acumulado até o primeiro semestre de 2009, foram 381 transplantes. Este ano, 48, com a possibilidade de chegar a 90 procedimentos, 17 a mais do que no ano passado, quando o HU realizou 73 transplantes, podendo encerrar o ano com um aumento de 23,29% nas cirurgias do tipo no Ceará. "O serviço de transplante de fígado funciona os 365 dias do ano, sempre que há um doador disponível", conclui Garcia.
Na fila por um fígado desde maio de 2007, ele conta que descobriu que tinha hepatite C há cinco anos. Começou o tratamento em Mossoró, mas veio para Fortaleza há 3 meses para aguardar o doador que vai mudar sua vida, garante eleEle é portador de hepatite B desde 2004. Já fez vários tratamentos e passou por internações. O quadro piorou e o transplante era a solução. Realizado em março deste ano, ele está curado. As internações ficaram no passado
PROTAGONISTAS
Pacientes relatam o drama de aguardar por um doador
João de Deus Silva, músico
Este ano, 12 pessoas morreram no Ceará na fila de espera por um transplante de fígado. Em 2008, a falta de doadores resultou no óbito de 42 pacientes que precisavam de um fígado novo para sobreviver, de acordo com o chefe do Serviço de Transplantes de Fígado do Hospital Universitário (HU) Walter Cantídio, Huygens Garcia.
Evandro Maia, transplantado
A tragédia das famílias que perderam os parentes na fila de espera para um transplante não é um problema isolado do Estado, mas reflete "o baixo número de doadores de órgãos no Brasil em relação aos países do primeiro mundo, como os Estados Unidos", lamenta o médico cirurgião do aparelho digestivo.
SUELEM CAMINHA REPÓRTER