segunda-feira, 3 de julho de 2017

ATX-BA: SURTO DE HEPATITE A



Alerta para surto de hepatite A de transmissão sexual em Europa, Ásia, EUA, Chile e Brasil.
Dra. Silvia Figueiredo Costa
NOTIFICAÇÃO 
27 de junho de 2017

Surtos de hepatite A por transmissão sexual entre homens que fazem sexo com homens (HSH) são descritos deste a década de 70. Entretanto, em 2017 houve aumento do número de surtos de hepatite A reportados no mundo com grande proporção de pacientes comprometidos em Europa, Ásia, EUA, Chile e Brasil.

Entre junho de 2016 e meados de maio de 2017 houve aumento de casos de hepatite A  principalmente em HSH em vários países de baixa endemicidade na região da Europa e nas Américas (Chile e Estados Unidos da América).

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) publicados em junho de 2017 reportaram surto em 15 países (Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Holanda, Noruega, Portugal, Eslovênia, Espanha, Suécia e Reino Unido) totalizando 1173 casos a partir de 16 de maio de 2017.

No Chile, a partir de maio de 2017 foram relatados 706 casos de hepatite A. Nos Estados Unidos, o departamento de saúde da cidade de Nova York registrou um aumento dos casos de hepatite A entre HSH quem não relataram viagens internacionais. E no Brasil, em São Paulo, houve aumento expressivo de casos de hepatite A, de um total de 68 casos em 2016 para 138 em 2017.  Este aumento de casos é um problema de saúde pública, devido à atual disponibilidade limitada de vacina contra hepatite A no mundo.
O vírus
A hepatite A é uma infecção causada pelo vírus da hepatite A (VHA), um vírus RNA de 27 nm classificado como um picornavírus. Ele pode causar um quadro de infecção sintomática ou assintomática após um período de incubação médio de 28 dias (intervalo: 15 - 50 dias) . A hepatite A é altamente contagiosa, é transmitida pela via fecal-oral, por meio do contato pessoa a pessoa ou do consumo de água ou comida contaminada. A melhor maneira de prevenir a hepatite A é por meio da vacinação contra o vírus.
Transmissão
A transmissão do VHA é fecal-oral de pessoa para pessoa. Ela se dá mais frequentemente entre contatos estreitos, especialmente entre familiares, e pode ocorrer por meio do contato sexual. Casos esporádicos e surtos de fonte comum também podem acontecer devido a exposição à água ou alimentos contaminados com fezes. A maioria dos surtos de origem hídrica está associada à água contaminada com esgoto ou inadequadamente tratada. Em ocasiões raras a infecção pelo VHA foi transmitida por transfusão de sangue ou por produtos derivados de sangue coletados de doadores durante uma fase virêmica da infecção.
Quem está em risco?
Qualquer um que não tenha sido vacinado pode se infectar com o vírus da hepatite A. Em áreas onde o vírus tem alta endemicidade, como no Brasil, a maioria das infecções de hepatite A ocorre durante a infância. Os principais fatores de risco para hepatite A incluem:
  • Falta de saneamento
  • Falta de água potável
  • Uso de drogas recreativas
  • Ser parceiro sexual de alguém com infecção aguda da hepatite A
  • Viajar para áreas de alta endemicidade sem ser imunizado

Patogênese
O VHA replica no fígado, é excretado na bile e eliminado nas fezes. O pico de infectividade ocorre durante o período de duas semanas antes do início da icterícia ou da elevação das enzimas hepáticas, quando a concentração de vírus nas fezes é maior. A concentração de vírus nas fezes declina depois que aparece a icterícia. A viremia ocorre logo após a infecção, e persiste durante o período de elevação de enzimas hepáticas, mas em concentrações várias ordens de magnitude menor do que nas fezes.
Sintomas
A hepatite A é uma doença autolimitada, que não resulta em infecção crônica. Mais de 80% dos adultos com hepatite A têm sintomas, mas a maioria das crianças é assintomática. A hepatite A geralmente tem um início abrupto que pode incluir febre, mal-estar, anorexia, náuseas, desconforto abdominal, colúria  e icterícia. Em crianças com idades inferiores a seis anos, 70% das infecções são assintomáticas. Se a doença ocorre, é normalmente não acompanhada por icterícia. Entre adultos a infecção geralmente é sintomática, com icterícia ocorrendo em mais de 70% dos pacientes. Em menos e 1% dos infectados a doença pode evoluir para a forma grave de hepatite fulminante.
Os sinais e sintomas geralmente duram menos de dois meses, apesar de 10% a 15% dos indivíduos sintomáticos apresentarem sintomas que podem prolongar recidivante, durando até seis meses. A taxa de letalidade global entre os casos relatados por meio do sistema nacional de vigilância de doenças notificáveis é de aproximadamente 0,3% a 0,6%, mas atinge 1,8% entre adultos com idade maior que 50 anos. Pessoas com doença hepática crônica têm maior risco de desenvolver insuficiência hepática aguda. Anticorpos produzidos em resposta a hepatite A protegem contra reinfecção.
Diagnóstico

Hepatite A não pode ser diferenciada de outros tipos de hepatite viral apenas com base nas características clínicas ou epidemiológicas. O HAV RNA pode ser detectado no sangue e fezes da maioria das pessoas durante a fase aguda da infecção. Métodos de amplificação em cadeia da polimerase (PCR) podem ser usados para detectar a viremia. No entanto, apenas um número limitado de laboratórios de pesquisa tem capacidade de usar esses métodos.

Testes sorológicos para detectar a imunoglobulina M (IgM), anticorpos para as proteínas do capsídeo do HAV (IgM anti-HAV) são necessários para confirmar um diagnóstico de infecção aguda de HAV. Na maioria das pessoas, o IgM anti-HAV torna-se detectável de cinco a 10 dias antes do início dos sintomas. O IgG anti-HAV, que aparece mais cedo no curso da infecção, continua a ser detectável por tempo de vida da pessoa e oferece proteção ao longo da vida contra a doença.
Prevenção

Segundo a OMS , países com baixa endemicidade devem recomendar a vacinação de hepatite A para grupos de alto risco, tais como os viajantes para áreas endêmicas, homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas, e pacientes com doença hepática crônica. Em casos de HSH o principal fator de risco está relacionado à transmissão sexual – contato sexual particularmente oral-anal. A maioria dos países com surtos recomendou rotineiramente a vacina contra hepatite A para mulheres que fazem sexo com mulheres.
  • A vacinação contra a hepatite A deve ser incluída como parte de um pacote completo de serviços para prevenir e controle das hepatites virais, incluindo a educação para a saúde e medidas para controle de surto.
  • Alguns países podem considerar uma agenda de dose única de vacina para hepatite A no caso de controle de surtos, especialmente quando a disponibilidade da vacina é escassa.
  •  Medidas de saúde pública devem ser dirigidas a grupos com risco aumentado de hepatite A e de complicações graves da infecção.
  • A informação deverá incluir o aconselhamento sobre prevenção –  vacinação, higiene, segurança alimentar e medidas de sexo seguras.
Em países com endemicidade intermediária, a vacinação da hepatite A pode ser considerada para toda a população, enquanto em países com alta endemicidade, as infecções são comuns, mas a doença é incomum, portanto, a vacina não é recomendada.
No Brasil os casos de hepatite A devem ser notificados para a secretaria de saúde de cada estado.

http://portugues.medscape.com/verartigo/6501326?src=soc_fb_share#vp_2hepatite