terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

DIÁRIO DO NORDESTE

Pulmão

Ceará realiza primeiro transplante bilateral

08.02.2012
l
Clique para Ampliar
O procedimento foi feito pela equipe médica do Hospital de Messejana; o paciente beneficiado é um potiguar de 52 anos

O Estado do Ceará conquistou, ontem, mais uma vitória na área da saúde. A equipe médica do Hospital Dr. Carlos Alberto Studart Gomes (Hospital do Coração de Messejana) realizou o primeiro transplante bilateral de pulmão do Norte/Nordeste e do Centro-Oeste. O procedimento foi realizado, anteriormente, nos Estados do Rio Grande do Sul e São Paulo.

O beneficiado com a cirurgia foi o pintor potiguar Antônio Gomes de Oliveira, 52, morador do pequeno município de Apodi, localizado a 77 Km de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Segundo a coordenadora clínica do Transplante de Pulmão do Hospital de Messejana, Cyntia Viana, há cerca de quatro anos o paciente sofria com um enfisema pulmonar, doença crônica na qual os tecidos dos pulmões são gradualmente destruídos. O problema, explica, é muitas vezes provocado pelo tabagismo.

Há pelo menos dois anos, Antônio Gomes era dependente de oxigênio artificial para sobreviver. "Ele estava na fila há cerca de um mês, mas há três meses já se preparava para fazer o procedimento. Essa é mais uma vitória para a equipe médica do Hospital do Coração e para o Ceará".

Esperança

João de Deus de Oliveira, irmão do paciente, conta que, além de ser fumante, Antônio Gomes trabalhava com solvente e tinta, o que pode ter prejudicado o quadro. Conforme João, ele e o irmão já tinham ido para Natal e Mossoró para realizar tratamento, mas, segundo os médicos, somente o transplante de pulmão bilateral resolveria o problema.

Foi então que eles receberam indicação de procurar o Hospital de Messejana e decidiram residir em Fortaleza. "Estamos morando próximo ao hospital, recebemos ajuda de amigos para nos manter, tenho fé de que vai dar tudo certo e meu irmão vai ficar curado dessa doença graças à medicina do Ceará", ressalta.

Cyntia Viana destaca que, atualmente, o Ceará é o terceiro polo brasileiro a realizar o transplante de pulmão no Brasil e, desde o dia 14 de junho do ano passado, quando foi realizado o primeiro transplante de pulmão do Estado, outras quatro cirurgias foram feitas, totalizando cinco transplantes de pulmão ao todo. Ainda de acordo com a coordenadora, apenas uma pessoa aguarda na fila à espera de pulmão e outros dez pacientes estão sendo avaliados.

Cyntia explica que o transplante de pulmão bilateral possibilita uma maior sobrevida ao paciente e é recomendado para casos de enfisema pulmonar e fibrose cística. No entanto, este é um procedimento mais delicado do que o unilateral e, por isso, requer mais cuidado.

Ainda, segundo a coordenadora clínica, são cerca de dez horas de cirurgia e, por questões de segurança, o procedimento é realizado apenas em pacientes de até 55 anos de idade. Ela destaca que, para a cirurgia, foram necessários seis cirurgiões, dois clínicos, dois pneumologistas, dois anestesistas, além de enfermeiros e técnicos.

O Ceará encerrou 2011 com 1.292 transplantes de órgãos e tecidos realizados. São 417 cirurgias do gênero a mais do que o total de 875 procedimentos feitos em 2010. Fazendo uma retrospectiva dos números, já são cinco anos de recordes. Enquanto no ano de 2006, a quantidade de transplantes foi de 446, em 2007, este número subiu para 654. Em 2008, um novo salto com 739 transplantes realizados e, em 2009, 767.

Doe de Coração

A Fundação Edson Queiroz levantou, em 2003, a bandeira a favor da doação de órgãos no Ceará com a campanha "Doe de Coração". Desde então, o número de doações não parou de crescer, o que demonstra que a iniciativa informa e contribui para a quebra de tabus relacionados à doação de órgãos.

Segundo Eliana Barbosa, coordenadora da Central de Transplante do Ceará, em 2003, quando a campanha foi lançada, o Estado deu um salto significativo nos transplantes. Em 2000, foram 272 transplantes, em 2001, caía para 202. Mas, em 2003, começou um processo crescente desses procedimentos. Em 2002, foram 296. No ano seguinte, foram para 420 e, em seguida, para 559.

Ainda de acordo com ela, os transplantes realizados em janeiro deste ano, que no total foram 97, já ultrapassaram os realizados em janeiro do ano passado, quando foram feitos 80 procedimentos no Estado. "Os dados demonstram o potencial de crescimento das doações e a força da campanha Doe de Coração", analisa Eliana.

KARLA CAMILA
REPÓRTER
 http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1103240