quarta-feira, 19 de setembro de 2012

ATX-BA - Utilidade Pública - Globo Ciências

01/09/2012 06h24 - Atualizado em 01/09/2012 06h24

Brasil tem o terceiro maior registro de doadores de medula óssea do mundo

Redome é gerenciado pelo INCA e tem cerca de 3 milhões de pessoas na lista de voluntários, perdendo apenas para os Estados Unidos e a Alemanha


Medula Óssea (Foto: Divulgação) 
Número de doadores de Medula Óssea cresce: Brasil é o terceiro maior registro do mundo (Foto: Divulgação)

O Brasil possui o terceiro maior registro de doadores de medula óssea do mundo. Perde apenas para os Estados Unidos e para a Alemanha. Os quase 3 milhões de voluntários dispostos a doar células-tronco da medula óssea estão cadastrados no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea, idealizado em 1993. Gerenciado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), com sede no Rio de Janeiro, o Redome teve um aumento de 16.000% no número de cadastros desde 2000.
“Antes do Redome, a alternativa era procurar o doador na família. E isso limitava bastante. Geralmente, é possível encontrar compatibilidade entre irmãos. Cada um tem cerca de 25% de chance de ser compatível. Hoje em dia, com o Redome, a chance inicial é de 70%”, compara o hematologista e diretor do Centro de Transplante de Medula Óssea do Inca Luís Fernando Bouzas. Hoje, 1.050 pessoas estão à procura de um doador compatível de medula óssea no país.
Para ser doador de medula óssea, em casos  não aparentados, é preciso se cadastrar no Redome. Para isso, é preciso ter entre 18 e 55 anos, e dirigir a um dos hemocentros do país. Depois de preencher o cadastro, os interessados assistem a uma palestra onde especialistas irão orientar e tirar possíveis dúvidas. Em seguida, será coletada uma pequena amostra de sangue para fazer um rastreamento de doenças transmissíveis pelo sangue como toxoplasmose, HIV ou doenças como anemia congênita e câncer, mas também para identificar o complexo principal de histocompatibilidade (MHC).
Luís Fernando Bouzas: Medula Óssea (Foto: Divulgação) 
Hematologista do Inca, Luís Fernando Bouzas:
Medula Óssea (Foto: Divulgação)
O MHC é um grupo de genes encontrado no cromossomo 6 com papel fundamental no sistema imune e autoimune dos seres humanos. “Lembra quando se fala de rejeição? Pois, então, quando se rejeita um órgão transplantado é porque esses genes do doador não são compatíveis com o da pessoa transplantada. São eles que rejeitam o órgão”, explica Luís Fernando Bouzas. "Muitos confundem a compatibilidade ao tipo sanguíneo e até mesmo com o sexo ou raça. Não é bem assim. A compatibilidade ou não entre paciente e doador de transplante está no Complexo Principal de Histocompatibilidade", continua.
Do outro lado, do lado do paciente, o médico o inscreve em outra lista, o Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea. Assim, os dados do Roreme e do Redome são cruzados. Ao identificar o doador, o Redome entra em contato com a pessoa para que se comece uma batelada de testes para complementar as informações do exame de sangue feito lá no início. “Uma pessoa pode ficar muito tempo na lista de doador. Ele pode até ter desistido”, explica. Entre os testes, são feitos exames para saber se há doenças infecciosas, hepatite, problemas cardíacos, entre outros possíveis riscos. É fundamental que o doador esteja em boa saúde e não tenha doenças do coração.
São necessários de três a quatro meses entre exames e esperas para saber se o doador é realmente compatível. Nos dias que antecedem a cirurgia, não há exigência quanto à mudança de hábitos de vida, trabalho ou alimentação. A doação é feita em centro cirúrgico, sob anestesia, e tem duração de aproximadamente duas horas. São realizadas múltiplas punções, com agulhas, nos ossos posteriores da bacia onde é aspirada a medula. “A doação tradicional é feita com anestesia, porque a punção dói. Mas o único risco para o paciente está na anestesia”, explica o hematologista do Inca.
Durante o transplante, retira-se de 10 a 15% da medula do doador e 15 dias após a doação, a pessoa terá a reposição completa do tecido líquido-gelatinoso. O doador ainda poderá fazer outra doação, caso seja do seu interesse, depois de seis meses da última cirurgia.
O Redome faz parte de uma rede internacional de mais de 20 milhões de possíveis doadores. Por isso, é possível fazer busca na Bone Marrow Donors Worldwide (BMDW) e em minutos ter a comprovação de compatibilidade com doadores de outras partes do mundo.
Mas o transplante de células-tronco hematopoéticas da medula óssea não é o único meio para se ajudar um paciente. Há também o sangue do cordão umbilical placentário e o transplante haploidêntico, para o caso de o doador não ser totalmente compatível com o paciente. O sangue do cordão umbilical e placentário é uma rica fonte de células progenitoras. Ele vem sendo utilizado como modelos terapêuticos onde é indicado o transplante de medula óssea. No entanto, a quantidade de células-tronco é suficiente para transplantar em pessoas com até 50 quilos. Para adultos, um cordão umbilical não basta. Se houver mais de uma pessoa compatível e número de células suficiente, é possível realizar o transplante dessas células progenitoras em adultos.
Vanderson Rocha: Medula Óssea (Foto: Divulgação/Hospital Sírio-Libanês) 
Vanderson Rocha: medula óssea
(Foto: Divulgação/Hospital Sírio-Libanês)
“Quando o doador não é compatível com o paciente, os linfócitos do doador atacam as células do paciente. E isso é mortal. Com algumas técnicas do transplante haploidêntico, podemos selecionar células que não queremos transplantar – como os linfócitos, por exemplo. As células passam por uma seleção para escolhermos as células tronco hematopoéticas”, explica o coordenador da Unidade de Transplante de Medula Óssea do Hospital Sírio-Libanês Vanderson Rocha. Mas as técnicas são experimentais e pode haver risco de infecção para o paciente. “É preciso todo o tipo de cuidado com as infecções e com a doença do enxerto-contra-hospedeiro”, explica Vanderson Rocha, complicação comum em transplantes de medula óssea. Por isso, em algumas técnicas, o médico aumenta o coquetel de drogas imunossupressoras ou é feito o uso da ciclofosfamida depois do transplante.
“Hoje, com as novas técnicas e tecnologias, o problema não está mais em encontrar doador, mas, sim, leitos disponíveis para se fazer os transplantes”, explica o médico.
Roreme: medula óssea (Foto: Divulgação/Inca) 
Número de transplantes realizados por busca do Roreme: medula óssea (Foto: Divulgação/Inca)
 
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