sexta-feira, 5 de março de 2010

FAXAJU


Saúde

Publicado em: 04/03/2010 06:46:18
Transplantes de córnea registram crescimento de quase 80% em um ano

“Senti uma sensação de alívio, porque a deficiência visual é uma prisão, onde se vive num mundo adverso. Poder enxergar e ter a visão total é uma sensação de liberdade muito grande”.
A declaração é do fisioterapeuta Breno Santiago Almeida, 27 anos, ao descrever o sentimento que teve após se submeter, em março do ano passado, ao segundo transplante de córnea e poder se livrar definitivamente de um problema que começou a se agravar aos 13 anos de idade.



O fisioterapeuta, que fez a primeira cirurgia em 2004, quando se submeteu ao transplante da córnea do olho esquerdo, foi um dos beneficiados com a agilização do processo de captação, decorrente da implantação do Banco de Olhos de Sergipe, em janeiro de 2009. A unidade funciona no ambulatório de retorno do Centro de Acolhimento e Diagnóstico por Imagem (Cadi), localizado no Centro Administrativo Augusto Franco, bairro Capucho, zona oeste da capital.


Em 2008, quando o Banco de Olhos ainda não existia, foram realizados 59 transplantes de córnea no Estado. No ano passado, foram 102, o que representa um aumento de quase 80%. “Tivemos 66 doadores com a captação de 132 córneas, que nos permitiu realizar esses 102 transplantes”, explica Benito Fernandez, coordenador da Central de Transplantes de Órgãos e Tecidos de Sergipe (CNCDO/SE), unidade vinculada à Secretaria de Estado da Saúde (SES), por meio da Diretoria de Gestão de Sistemas.


Segundo ele, das 132 córneas captadas, cerca de 70% a 80% foram de pacientes que morreram por parada cardiorrespiratória no Hospital de Urgência de Sergipe (Huse), onde há a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT). O não aproveitamento das outras 30 córneas se deu por diversos fatores. “Algumas foram de pacientes que apresentaram sorologia reagente a doenças infectocontagiosas, como hepatites B e C, enquanto em outras havia deficiências no tecido, com poucas células”, diz Fernandez.


Êxito

Os dados apresentados por Sergipe vão na contramão das estatísticas nacionais. No final de fevereiro, o Ministério da Saúde divulgou que, apesar dos investimentos em transplantes aumentarem 343% em oito anos, no último balanço as cirurgias de córnea (tecidos) apresentaram leve queda de 1,76%. Em 2008, foram realizados no país 12.951 transplantes desse tipo contra 12.723 em 2009.


Para a secretária de Estado da Saúde, Mônica Sampaio, maior que o impacto numérico causado pelos dados apresentados por Sergipe é a importância desses transplantes na vida das pessoas. “Ampliar a captação de doadores e fazer a Central de Transplantes aumentar a sua produção é garantir uma nova possibilidade de vida àqueles que sofrem devido às limitações físicas congênitas ou provocadas”, destacou.


Banco de Olhos

Antes da unidade começar a funcionar em Sergipe, o tempo médio entre a captação da córnea, avaliação, processamento e o transplante era de 12 dias. “Com o Banco de Olhos, esse tempo foi reduzido à metade”, informa o coordenador da CNCDO/SE, acrescentando que a equipe que atua 24 horas na unidade é formada por seis enfermeiros, dois médicos e um atendente


Até o final de 2008, as córneas captadas em Sergipe eram avaliadas e processadas no Banco de Olhos do Distrito Federal. “Isso demandava muito tempo e contribuía para a redução da qualidade do tecido a ser transplantado”, explica Benito Fernandez. Depois do óbito, as equipes da CNCDO ou da CIHDOTT têm até seis horas para a retirada da córnea e mais 12 horas para preservá-la, podendo utilizá-la até 14 dias depois.


Doação
Além dos investimentos do governo na área, o aumento do número de doações depende do envolvimento dos profissionais que atuam nos hospitais e dos familiares. “Graças à solidariedade de 66 famílias, ampliamos em quase 80% o número de cirurgias no ano passado, em comparação a 2008”, ressalta o coordenador da CNCDO.


Vinculada à Diretoria de Gestão de Sistemas da SES, a Central de Transplantes é responsável pelo cadastro de pacientes na fila de espera e pela distribuição dos órgãos captados. “A participação dos profissionais de saúde é vital para o processo de detecção do potencial doador, assim como da família, que é quem autoriza a doação”, destaca Benito Fernandez.
O fisioterapeuta Breno Santiago, desde que se submeteu ao primeiro transplante, passou cinco anos na fila de espera por um novo doador. “Em abril de 2004, houve uma inflamação na córnea esquerda, que chegou ao ponto de romper, e tive que fazer às pressas uma cirurgia de urgência”, recorda. Desde a infância, em consequência de um problema genético, ele sofria com a perda progressiva da visão, problema que se agravou aos 13 anos.
“Depois dessa cirurgia, a primeira vez que enxerguei algo nítido com o olho esquerdo foi um ano e quatro meses depois, mas entre três e quatro meses após o transplante já pude voltar a fazer simples atividades diárias, como até mesmo transitar de carro”, lembra. Segundo ele, a segunda cirurgia, realizada no olho direito no ano passado e que lhe permitiu abandonar de vez o tratamento com lentes de contato, foi menos traumática.