quinta-feira, 3 de junho de 2010

Zero Hora

01 de junho de 2010 N° 16353
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Por que diminuem as doações
Ministério Público lança campanha de conscientização para reverter queda no número de órgãos oferecidos para transplante.

O Rio Grande do Sul, que já foi o número um em transplantes no país – respeitada a proporção em relação à população –, está agora em terceiro lugar nessa delicada modalidade de cirurgia, atrás de São Paulo e do Paraná. E esta não é a pior notícia do momento. O número de doações de órgãos concretizadas vem caindo ano a ano, desde 2007, no Estado. Neste período, a redução foi de 8,5% no número de doadores e 14% no de transplantes concretizados.

Enquanto em 2007 ocorreram 147 doações efetivamente transformadas em transplantes, no ano passado apenas 126 foram bem-sucedidas. E a tendência continua de queda nos procedimentos, a se julgar pelos 34 transplantes concretizados no primeiro trimestre no Rio Grande do Sul – a se manter o ritmo, o número ao final de 2010 vai no máximo empatar com o do ano passado.

Mas o que está provocando a redução? Um estudo da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, integrada pelas centrais de doações espalhadas pelo Brasil afora, aponta que mais da metade das doações no Rio Grande do Sul (60%) não se concretizou porque os familiares do doador em potencial não autorizaram a cirurgia. Os 40% restantes de doações não efetuadas ocorreram porque havia contraindicação médica.

– Aumentou o número de UTIs no Interior e isso talvez salve vidas e diminua o número de doadores. Mas, se agilizarmos o treinamento dessas equipes para diagnosticar mortes, voltaremos a ter mais doações – aposta o coordenador da Central de Transplantes-RS, Eduardo Elsade.

É para reverter essa redução no número de transplantes que o Ministério Público Estadual lançou ontem o programa Abra as Portas do seu Coração, Doe +, Doação de Órgãos e Tecidos + Vidas. Os promotores assinaram um termo de cooperação com a Federação das Associações dos Municípios do RS (Famurs) e a Fundação de Economia e Estastística (FEE) para levantar dados relativos à captação e à doação de órgãos. A ideia é verificar as causas da redução no número de doações.

Há 22 mil gaúchos à espera de um transplante

Para dar exemplo, a própria procuradora-geral de Justiça, Simone Mariano da Rocha, doou sangue que será cadastrado num banco de transplantes de medula óssea. A doação foi feita no saguão da sede do MP em Porto Alegre. A iniciativa deu certo. Apenas ontem, 108 pessoas doaram sangue no mesmo local.

– Existem em torno de 2,2 mil gaúchos aguardando por um transplante e, ao mesmo tempo, uma redução no número de doadores. Temos de agir de forma coordenada, articulando ações públicas – justificou a procuradora.

No país, o quadro é oposto. O número de doações aumenta a cada ano. Cresceu 18%, enquanto o de transplantes aumentou 44%. Mesmo assim, a performance média do Estado é melhor. Em território gaúcho, uma em cada três doações em potencial de órgãos se concretiza. No país, apenas uma em cada quatro vira realidade.

humberto.trezzi@zerohora.com.br
HUMBERTO TREZZI