sábado, 10 de outubro de 2009

Gazeta de Alagoas

09.10.2009 19h39
Crianças transplantadas em Recife retornam a Maceió
Salvos por transplante de fígado, Rani Kelly e Cleylton recebem alta
Agência Alagoas
As crianças Rani Kelly e Cleylton, submetidos a transplantes de fígado no Hospital Osvaldo Cruz, em Recife, receberam alta médica nesta sexta-feira (9) e já estão de volta a Maceió, em companhia de funcionários da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). “A vida está acima de tudo.

O trabalho integrado de nossa equipe junto ao serviço de excelência que presta a equipe do meu professor e médico, Cláudio Lacerda, foi possível garantir vida nova a estas duas crianças” destacou o secretário da Saúde, Herbert Motta, que também é cirugião.

O retorno das crianças, acompanhadas de suas mães, foi feito em duas camionetes da Sesau. Durante a semana, a equipe de reportagem da assessoria de comunicação da Sesau visitou a casa de apoio Edithe Medeiros.

No Recife, Rani Kelly, que reside em Maceió e Cleylton, em São José da Tapera, enfrentaram uma batalha pela própria sobrevivência e contaram com o apoio de uma casa de passagem mantida pela ONG Núcleo de Apoio aos Portadores de Hepatite (Naphe), ligada ao Instituto do Fígado de Pernambuco (IFP).

As crianças estavam muito bem.“As crianças transplantadas têm uma alegria de viver diferente dos outros”, revelou o cirurgião Cláudio Lacerda, que coordenou o transplante das crianças.O médico Claúdio Lacerda relembrou a chegada de Kleilton à unidade e a importância da agilidade da equipe alagoana no transporte da criança. “Quando o helicóptero de Alagoas pousou no campo de futebol aqui próximo, me fez refletir sobre o potencial do SUS. A situação dele era grave, como todos os pacientes que precisam de transplante de fígado, e somente poderia ser salvo com a cirurgia de imediato”, destacou.

Agilidade no transporte foi decisiva.
Segundo Lacerda, o transplante de fígado é a cirurgia mais complexa realizada no corpo humano, por isso requer uma logística bastante ordenada. “Já enfrentamos casos tão difíceis quanto os de Kleilton e Rane Kelly; o diferencial é a celeridade no transporte, que desta vez foi realizada com uma aeronave oficial para a transferência segura dessas crianças. Se eles estivessem na Suécia não poderiam ter tido acolhimento melhor”, comparou.“Não existe nada mais fascinante e espetacular do que o transplante de fígado, por ser o único procedimento capaz de recuperar a plenitude da saúde daqueles que têm doenças graves no órgão. É um verdadeiro milagre da vida o que acontece com o corpo após a cirurgia e é isso que está ocorrendo com Kleilton e Rane Kelly; eles nasceram de novo e só não voltaram para casa porque suas mães precisam ser bem instruídas sobre alguns cuidados, principalmente com a medicação”, contou Lacerda, antes de liberar os dois pacientes.

Compromisso — Para o secretário Herbert Motta, que também é especialista em transplante de fígado e cuja residência médica foi realizada junto à equipe de Cláudio Lacerda, é papel essencial dos gestores públicos disponibilizarem serviços de saúde humanizados e de alta capacidade resolutiva.“Foi um trabalho integrado que contou com a participação de várias profissionais do HGE, Samu e até da Casa Militar.

A vida está acima de tudo. Tão logo o governador Teotonio Vilela Filho soube da urgência em transportar essas crianças, de pronto cedeu o helicóptero oficial. Conhecemos o drama dos pacientes com patologias graves, principalmente das mães, quando veem seus filhos na lista de espera por um órgão. Nossa missão é contribuir para a excelência no atendimento dos usuários do SUS”, afirmou.Vida nova — Vera Lúcia da Silva, mãe de Kleilton, demonstrou com satisfação o alívio em ter o filho curado e pronto para voltar a brincar com os amigos do Povoado Caboclo, no município de São José da Tapera. “Ele está se recuperando muito bem e daqui a seis meses poderá fazer o que tanto gosta, que é jogar bola.

Os médicos disseram que mesmo curado, é preciso ter alguns cuidados como não andar descalço, tomar os remédios todos os dias e evitar sentar no chão sujo ou colocar a mão no chão”, contou.

Já a mãe de Rane Kelly, Valéria Alves, disse que no próximo dia 15 a menina tem exame marcado no Instituto do Fígado para avaliar seu estado clínico. “Desde 15 dias de vida, Rane já apresentou os sintomas da doença; com dois meses ela se submeteu a uma cirurgia e na época fui informada que no futuro o transplante de fígado seria necessário”.

Solidriedade — A Casa de Apoio Edithe Medeiros acolhe pacientes com doenças do fígado antes e após o transplante, que sejam de baixa renda e oriundas do interior de Pernambuco ou de outros estados. Após a cirurgia no Hospital Oswaldo Cruz, eles passam a ser acompanhados pela equipe médica do Instituto do Fígado de Pernambuco.

Doação — Referência nacional, o programa de transplante de fígado do Hospital Universitário Oswaldo Cruz foi implantado há dez anos e tem capacidade para realizar cinco cirurgias desse porte por semana. “A tecnologia que dispomos é de ponta, por isso atendemos pacientes de todo o País. Mas ainda esbarramos no baixo número de doadores, que se reflete na morte de muitas pessoas que estão na lista de espera por um órgão”, destacou o cirurgião Cláudio Lacerda.

Ele informou que atualmente existem 250 pacientes na lista de transplante de fígado esperando pela solidariedade dos familiares que perderam um ente querido, que ainda está em condições de salvar a vida de tantos outros. “Se houvesse mais investimento do governo em estruturar as centrais de transplantes e promover campanhas de conscientização, com certeza teríamos mais doadores e mais vidas salvas”.

O programa de transplante de fígado tem sete cirurgiões, divididos em duas equipes: uma para a captação do órgão e outra para o procedimento com o receptor. O custo total de cada transplante para o Sistema Único de Saúde (SUS) chega a quase R$ 80 mil, sendo R$ 73 mil na cirurgia com o receptor e R$ 6 mil na captação.