terça-feira, 14 de dezembro de 2010

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

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Agência de Notícias das Hepatites
30/11/2010

AIDS, Hepatite C e Tuberculose no Dia Mundial da AIDS

Muitos estarão perguntando por que estou escrevendo sobre AIDS em uma página de hepatites, mas amanhã, 1° de dezembro, é o Dia Mundial da AIDS e a luta e resultados conseguidos nessa epidemia merecem uma reflexão. Acredito que o dialogo, a troca de experiências, as ações de governo e da sociedade civil podem ser beneficiadas ao comparar alguns dados.

Para os que não conhecem os conceitos da epidemia de AIDS é importante esclarecer que existem pessoas que não precisam de tratamento, pois são simplesmente portadores do vírus HIV não existindo ataque ao sistema imunológico já, quando o HIV ataca o sistema imunológico o individuo passa a estar doente de AIDS.

Poderão então os epidemiologistas afirmar que o perigo da AIDS se transformar em uma pandemia não mais existe, passando então a ser uma epidemia. Isso resultou do excelente trabalho de pesquisas em relação ao conhecimento do vírus, a excelente divulgação que foi dada em todo o mundo, a preocupação das autoridades e ao engajamento da sociedade civil organizada no enfrentamento de uma doença mortal, mas com tudo isso novos casos de infecção não param de aparecer. Comemoramos que os casos de AIDS estão descendo, mas é muito preocupante que os diagnósticos de HIV estão aumentando. O que está acontecendo?

A AIDS, com o tratamento antirretroviral deixou de ser uma doença mortal para se transformar em doença crônica, levando um considerável número de pessoas a acreditar que tendo tratamento deixou de ser perigosa e por tanto pode se relaxar em relação à prevenção, inclusive, por ser o preservativo a melhor forma de prevenção alguns fazem uma verdadeira “roleta russa” e ignoram o uso para ver se ficam, ou não, contaminados. A psicologia deveria pesquisar o porquê dessa mudança de comportamento na sociedade. Foi a massificação das informações, foi o sucesso dos medicamentos que evitam a morte, continua sendo o estigma do fato que usar o preservativo poderia indicar ao parceiro que “estou” infectado?

Existem outros fatores muito preocupantes. A AIDS foi por muitos anos estigmatizada como uma doença de homossexuais, mas hoje em muitos países a maioria das novas infecções corresponde a heterossexuais, também, já é observado que a idade das pessoas diagnosticadas está aumentando, indicando provavelmente que tais pessoas ao desconhecer sua condição estão disseminando a doença. Fica aqui perguntar por que as pessoas deixam de procurar a realização do teste, pode ser por medo de saber ou por medo de se identificar e com isso ficarem estigmatizadas. Um ponto que deve ser repensado, pois provavelmente o teste anônimo como era ao inicio da epidemia tenha sido a estratégia ideal.

E falando em mortes. Será que ninguém mais morre pela AIDS como é divulgado na mídia. OK é possível chegar aos 70 anos tomando antirretrovirais, porém hoje as maiores causas de mortes em indivíduos com AIDS são a tuberculose e a hepatite C, esta última em maior prevalência.

Diversas pesquisas indicam que entre 8 e 10% dos infectados com HIV estão com tuberculose e, entre 20 e 30% co-infectados com a hepatite C. A AIDS diminui as defesas do organismo o que facilita a ação do bacilo da tuberculose e, o tratamento antirretroviral prejudica o fígado, ocasião em que o vírus da hepatite C aproveita para destruí-lo totalmente. Indivíduos co-infectados com AIDS e hepatite C morrem muito jovens, mal chegando aos 50 anos se não diagnosticados precocemente e corretamente tratados da hepatite C.

É nesse ponto que fico altamente preocupado, motivo deste texto. Semana passada fui convidado a participar de uma mesa para explicar as hepatites durante o 15° VIVENDO AIDS. A platéia era de ativistas e voluntários na luta contra a AIDS, mas o desconhecimento dos estragos que a hepatite pode causar era muito grande. Alguns infectados nada sabiam e, outros, moradores do interior do Brasil, relatavam o atendimento médico que estavam recebendo, se é assim que podemos chamar isso de atendimento, pois ouvi coisas de arrepiar. Saí de lá pensando no triste prognostico que esses infectados possuem, de como irão morrer ainda na fase mais produtiva da sua vida.

Com este texto, sem nexo nem cabeça, onde fui colocando pensamentos variados, sem nenhuma ordem e do qual não farei releitura nem correções, espero abrir discussões sobre a necessidade de pensarmos se tudo o que realizamos nestas quase três décadas de enfrentamento da AIDS deu certo ou errado. Com certeza muita coisa deu certo e devemos aplaudir, mas criteriosamente devemos avaliar, também, o que deu errado e consertar antes que o caminho continue errado. A experiência é fantástica e pode ser melhorada ainda mais.

Carlos Varaldo