terça-feira, 20 de novembro de 2012

ATX-BA - UTILIDADE PÚBLICA - HEPATITE C

A ATX-BA é filiada a ALIANÇA INDEPENDENTE DOS GRUPOS DE APOIO - AIGA - Aliança Brasileira pelos Direitos Humanos e o Controle Social nas Hepatites(www.aigabrasil.org)
 
Temos atuado em conjunto com  grupos e ONGs  em vários estados do Brasil realizando
campanhas preventivas e educativas sobre hepatites B e C, além de orientar o paciente em todas áreas.
 Abaixo temos alguns esclarecimentos sobre o tema feito pelo  presidente do        Grupo  Otimismo.                     
Enfrentamento da epidemia de hepatite no mundo - Como o Brasil fica na foto?

Regressando de dois grandes congressos, o de Controvérsias na Hepatite C, em Berlim, e o Americano de Fígado, AASLD 2012 em Boston é possível realizar uma analise critica sobre a situação do enfrentamento da epidemia das hepatites no Brasil.

Essa analise comparativa com outros países resulta numa espécie de fotografia para melhor retratar como nos encontramos em diversas questões. Para melhor entender falarei de três "fotografias" nas quais em uma estamos muito mal, em outra muito bem e em uma terceira a nossa imagem está meio fora de foco.

Vamos então explicar
uma por uma.
CONSENSOS E PROTOCOLOS - SOCIEDADES MÉDICAS E GOVERNO

Passado já um ano e meio de uso dos inibidores de proteases boceprevir e telaprevir nos Estados Unidos e Europa, os médicos desses países não entendem como ainda o Brasil não possui nenhum consenso de tratamento ou protocolo para poder guiar os médicos no tratamento com tais medicamentos.

Fui questionado sobre isso numa reunião em Boston, já que observam uma grande quantidade de brasileiros nos congressos e não entendem a falta de consensos científicos para guiar os médicos na forma de tratar. Tive que explicar que também eu não entendia o motivo da paralisia e o silencio das Sociedades de Hepatologia e de Infectologia, expliquei que aparentemente estão aguardando o governo publicar o protocolo para tratamento no serviço público para somente depois emitir os seus consensos, talvez para evitar publicações em desacordo ou conflitantes com aquilo que quer o ministério da saúde.

Comentaram que geralmente são as sociedades médicas que primeiro emitem os consensos para assim guiar seus associados e somente depois é que os governos emitem seus protocolos de atendimento no serviço público, esses protocolos em geral são mais restritivos no acesso que os consensos das sociedades médicas. Não tive resposta e nem tentei explicar para não passar vergonha sobre como a coisa funciona no nosso belo país.

Perguntaram como sem existir um consenso ou protocolo já existem aproximadamente 1.400 pacientes tratados ou em tratamento com os inibidores de proteases. Expliquei que nesse sentido os medicamentos estão aprovados para comercialização desde final de 2011 e que, portanto o que vale para interpretação é a bula, sendo a mesma muito mais "facilitadora" que qualquer consenso. Na bula não existem restrições sobre o grau de fibrose para utilizar os medicamentos. Assim, os pacientes em qualquer situação clínica procuram na via judicial o tratamento, sendo imediatamente atendidos pelos Juízes já que a Constituição Federal garante o acesso à saúde. A bula é muito melhor para se aceder via judicial que qualquer consenso ou protocolo. É por isso que falamos que o Judiciário é o melhor dos hospitais, o mais sensível aos pacientes.

Lamentavelmente alguns médicos ao não ter uma guia de tratamento (consenso das sociedades) ou um protocolo do governo, podem errar na indicação de tratamento, pois a única informação sobre como tratar é aquela recebida pelos laboratórios fabricantes. Isso é ruim para os pacientes, mas quem tem cirrose ou fibrose muito avançada se esperar pelos consensos ou protocolos no Brasil, eles podem chegar tarde demais, quando o paciente já estiver descompensado ou morto.

Conclusão:
Estamos muito mal nesta fotografia.

 
TESTES RÁPIDOS


Em Boston participei de uma reunião com associações de pacientes dos Estados Unidos. A maioria das associações presentes trabalham com redução de danos, em geral distribuindo seringas e preservativos entre usuários de drogas, populações de rua e profissionais de sexo.
Na apresentação da "Citiwide Harm Reduction" de New York, os quais com orçamento de 3,5 milhões de dólares (90% recursos do governo) realizam um excelente trabalho de acolhimento de infectados e advocacy para os direitos humanos. Possuem uma bela sede, farmácia, atendimento médico, psicólogos, nutricionistas, enfermagem, advogados, etc.. Estão agora realizando testes rápidos tendo realizado neste ano aproximadamente 620 testes de hepatite C, encontrando 32% de infectados e com dois pacientes em tratamento.

Quando perguntado sobre a testagem rápida no Brasil não queriam acreditar que em 2012 devemos realizar entre fabricantes e associações de pacientes uns 400.000 testes e o governo outros 1,8 milhões. O tamanho dos olhos, totalmente assombrados dos participantes da reunião foi motivo pessoal de orgulho. Fiquei feliz de mostrar como estamos adiantados na aplicação da testagem rápida. Devemos ter orgulho da atuação nesse sentido.
Nenhum país do mundo realiza tal quantidade de testes rápidos. Esclareci que no Brasil empregamos o teste rápido feito com uma gota de sangue, ao preço de aproximadamente 1,5 dólares cada, contra o teste oral empregado nos Estados Unidos, de custo aproximado de 26 dólares. Tal vez seja essa a explicação do porque estamos dando um exemplo ao mundo sobre a forma de campanhas de testagem rápida.
Conclusão: Estamos muito bem nesta fotografia, aparecemos como os melhores do mundo.
NÚMERO DE TRATAMENTOS NA HEPATITE C
 

Um estudo apresentado no congresso da AASLD 2012 (AASLD 1012 - Abstract 1750 - The number of treated HCV infected patients in the Americas, Europe, and Asia Pacific in 2004-2010 - H. Razavi; C. Estes; K. Pasini; A. Levitch; - Center for Disease Analysis, Louisville, CO, United States) com dados que acredito são aproximados, pois alguns deles não refletem a realidade que observamos e os próprios pesquisadores admitem isso no texto, mostra os tratamentos realizados comparando os anos de 2004 e 2010 em 45 países analisando as unidades de interferon peguilado vendidas pelos fabricantes, ajustando as mesmas aos tratamentos dos diferentes genótipos e considerando as interrupções.
Nos três continentes de América (Norte, Central e Sul), em 2004 estimam que foram realizados 160.000 tratamentos, mas se observa uma diminuição paulatina e constante, ficando em 2010 com uma estimativa de 100.000 tratamentos. Seguindo o mesmo analise a maior redução aconteceu nos Estados Unidos, onde em 2004 foram estimados 145.000 tratamentos, caíndo para 63.000 tratamentos em 2010.
Os pesquisadores colocam que o Brasil ajudou a compensar a queda nos números, passando de 10.000 tratamentos em 2004 para 25.000 tratamentos em 2010. Pessoalmente concordo com a aproximação no número de tratamentos em 2004, mas acho totalmente errada a estimativa de tratamentos realizados em 2010. No sistema público foram tratados 11.628 pacientes e se consideramos mais uns 2.000 de forma privada ficamos em aproximadamente 15.000 tratamentos e não nos 25.000 estimados pelos pesquisadores. Os pesquisadores não analisaram os tratamentos realizados e sim o faturamento das empresas, sendo que uma entrega ao sistema público referente ao consumo de 2011, entregue no final de 2010, foi contabilizada como se fossem tratamentos realizados em 2010. O número correto a ser considerado é aproximadamente de 15.000 tratamentos.
Entre os países asiáticos a estimativa é de 100.000 tratamentos em 2010, ficando o Japão na frente com 40.000 tratamentos, enquanto na Europa a França, Alemanha e Itália realizaram cada um deles uma media de 10.000 tratamentos em 2010. O Egito realizou em 2010 uns 20.000 tratamentos e a Austrália uns 12.000 no mesmo ano.
Concluem os autores que a capacidade de tratamento pode ter sido atingida nos países em que o tratamento da hepatite C foi estabelecido antes de 2004 e por isso a diminuição acontecida no número de tratamentos ao se comparar com 2004. Diferente naqueles países em que o tratamento teve maior oferta por parte dos governos após 2004, o que explicaria o aumento substancial.

Conclusão:
Se avaliamos o Brasil pelo número de tratamentos realizados em 2010 ficamos muito bem nesta fotografia, pois estaríamos em quarto lugar, atrás somente dos Estados Unidos, Japão e do Egito. Mas se analisamos os números em função da população do país e do número de infectados em relação percentual a quantos tiveram acesso ao tratamento, então a nossa posição cai para um lugar entre a 15ª e 20ª colocação, assim, nesta fotografia estamos meio fora de foco.

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