quinta-feira, 15 de abril de 2010

Portal Hosp

Atualidades
06/04/2010
Nefrologistas fazem apelo ao Ministério da Saúde para garantir sobrevivência dos doentes renais crônicos

Associações reúnem-se com representante do Governo em prol de soluções para a atual crise no atendimento aos pacientes

Nesta terça-feira, 06 de abril, o presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Dr. Emmanuel A. Burdmann, e o presidente da Associação Brasileira de Clínicas de Diálise e Transplante (ABCDT), Dr. Paulo Luconi, reúnem-se com o Secretário de Atenção à Saúde, Alberto Beltrame. O objetivo do encontro é buscar soluções para reverter a crise que compromete o tratamento e a sobrevivência dos pacientes renais crônicos no Brasil.

A doença renal crônica acomete 13 milhões de brasileiros. Considerando-se os dados mundiais, mais de 100 mil pacientes com doença renal crônica deveriam estar em tratamento de diálise no Brasil. No entanto, dados do Censo 2009 da SBN demonstram que, atualmente, apenas 77 mil pacientes fazem diálise, cerca de 10 mil a menos do que em 2008. O levantamento também constatou que os índices de mortalidade vêm aumentando em torno de 1% por ano nos últimos quatro anos, chegando a 17,1%, um índice que preocupa os nefrologistas de todo o país.

Segundo Dr. Burdmann, muitos pacientes provavelmente estão morrendo sem mesmo terem acesso a serviços de diálise. A falta de investimento do Governo no setor não estimula a abertura de novas unidades e leva a deterioração das existentes. "Muitas clínicas estão em estado de pré-falência. Se nada for feito urgentemente pessoas vão morrer por falta de tratamento", ressalta Burdmann.

"Além disso, os dados da SBN sugerem que, em 2009, no mínimo 30 mil brasileiros podem ter morrido sem ao menos ter tido acesso ao tratamento", afirma. Finalmente, o presidente da SBN pondera que "Nos últimos quatro anos não houve modificação significativa no perfil dos pacientes, dos médicos e profissionais que deles cuidam. Este aumento da mortalidade reflete a situação crescente de penúria enfrentada pelas clínicas que atendem aos pacientes pelo SUS".

A situação é tão preocupante que a ABCDT entregou ao Ministério da Saúde uma relação de custos e gastos com diálise que demonstra a escassez de investimentos públicos no setor. Para o Dr. Luconi, a solução do problema está na resolução da asfixia financeira das clínicas, o que permitiria a continuidade do tratamento e a sobrevivência dos pacientes em diálise.

Entre os temas abordados na reunião estão a viabilização econômica dos procedimentos de diálise, incluindo a readequação dos valores de 2009, o aumento dos honorários médicos em Diálise Peritoneal e Hemodiálise e o problema do atraso no repasse dos pagamentos, e a realização de campanha nacional para detecção e tratamento precoce da DRC, para diminuir a necessidade de diálise e transplante renal.

Sobre a doença Renal Crônica: Segundo a SBN - Sociedade Brasileira de Nefrologia, 1 em cada 10 brasileiros apresenta algum grau de doença renal e 90% dos pacientes não sabem que estão doentes, porque os sintomas só aparecem quando o rim já perdeu grande parte da sua função. Nos últimos 8 anos, os casos de pacientes que precisam de diálise no país aumentaram em 84%.


Fonte: Burson-Marsteller



O Tempo online

Cidades

Decisão. Mãe teve a iniciativa assim que soube que o filho levou tiro na cabeça e não sobreviveria

Cabeleireira dá exemplo de solidariedade e doa órgãos
O TEMPO lança hoje, em parceria com o MG Transplantes, a campanha Viver Mais

Andréa Silva
Os projetos e sonhos do operador de máquinas Roger Nascimento Perdigão, 23, foram interrompidos. O rapaz, mais uma vítima da violência, foi baleado na cabeça anteontem e teve o diagnóstico de morte cerebral. Mesmo diante da dor, a mãe dele, a cabeleireira Valéria Correia da Silva, 46, tomou uma importante decisão. Ela vai doar todos os órgãos do filho. Perdigão está internado no Hospital João XXIII.

Essa é a segunda vez que Valéria, moradora do bairro Olaria, na região do Barreiro, em Belo Horizonte, perde um filho. Em 2008, o caçula, de 19 anos, foi assassinado. O crime, motivado por vingança, ocorreu dentro de um ônibus. Na época, a cabeleireira - que também presta serviço voluntário como comissária de menor em áreas de risco e nos fins de semana em uma creche e um asilo - não pôde optar pela doação.

Agora, com mais informações, ela tomou a decisão que, acredita, irá ajudá-la a diminuir o sofrimento de não ter mais a companhia do filho. "É uma forma de mantê-lo vivo", diz.
Iniciativa como a de Valéria da Silva é o que muitas famílias esperam para mudar o rumo da história de quem está na fila à espera de doação de órgãos.


Com o objetivo de chamar a atenção da sociedade sobre a importância do ato, o jornal O TEMPO e o MG Transplantes lançam, hoje à noite, a campanha "Viver mais". A solenidade terá a presença do ministro da Saúde José Gomes Temporão.

"Essa é uma iniciativa de extrema importância em Minas Gerais, porque existe em nosso Estado uma fila imensa de pessoas que dependem apenas de um doador. Os órgãos que são desperdiçados poderiam dar mais vida e alegria para essas pessoas e suas famílias", destaca Vittorio Medioli, fundador da Sempre Editora. A campanha constará de uma série de reportagens especiais, que serão publicadas semanalmente, a partir do próximo domingo, dia 18.

Ontem, ainda muito abalada com a notícia de que o filho não teria chances de sobreviver, a cabeleireira contou que não teve dúvidas sobre fazer a doação. O resultado dos exames que irão confirmar a transferência dos órgãos será liberado hoje. De acordo com a assessoria da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), o corpo do jovem permanece ligado a um respirador.

"Sei que não terei meu filho de volta, mas com certeza os órgãos dele poderão dar uma vida melhor a outras pessoas. Isso alivia um pouco a minha dor", disse a mulher, que agora só terá a companhia da filha Paula, de 25 anos.

Roger Perdigão participava de uma festa de rua com os amigos quando foi baleado. O evento ocorreu perto de onde ele morava.

Minientrevista

"Doar é uma forma de mantê-lo vivo"
Valéria Correia da Silva Cabeleireira, 46, Mãe de Roger Perdigão

A cabeleireira Valéria Correia da Silva decidiu doar todos os órgãos do filho, logo depois de ter sido informada pelos médicos do HPS da possibilidade de morte encefálica. Na entrevista abaixo, ela conta por que tomou a decisão.

Onde você estava quando seu filho foi baleado? Estava prestando serviço em uma creche em Betim, onde sou voluntária. Me ligaram, dizendo que meu filho havia tomado um tiro na perna.

Quando você recebeu a informação de que ele havia sido atingido na cabeça?
Informei o nome do meu filho na recepção e a funcionária do HPS confirmou que ele estava na unidade, mas que ele havia tomado um tiro na cabeça.

Qual foi a sua reação?
Não conseguia acreditar naquilo. Mas quando vi o estado do meu filho, tive a certeza de que ele não iria sobreviver. Pela segunda vez, perco um filho para a violência.
Foi nesse momento que você decidiu pela doação dos órgãos?
Foi. Mesmo muito abalada, não quis esperar. Procurei a assistente social do hospital e comuniquei minha decisão de doar todos os órgãos.

A senhora acredita que a decisão vai diminuir seu sofrimento?
Muito. Me dá um conforto saber que as pessoas com órgãos doentes poderão ter uma vida melhor por meio do meu filho. É uma forma de mantê-lo vivo também.
A senhora deseja falar algo para outras mães? Quero dizer para elas educarem bem os filhos. Continuarem lutando para eles não se envolverem com a violência e não perderem suas vidas e nem tirar a de outros.

Transplantes
63.866 pessoas estão na fila de espera de transplante de órgão no país
2.077 pacientes em Minas aguardam na fila de transplante de órgão
2.057 cirurgias de transplantes foram realizadas no Estado 2009

Doador passa por exames

Assim como outros doadores de órgãos, Roger Perdigão foi submetido a exames que confirmaram a morte encefálica. O procedimento foi realizado por um o médico intensivista e um neurologista e comunicado à central de transplante.
Se houver condições favoráveis à doação, o que deve se confirmar hoje, outros exames serão feitos para liberação dos órgãos. (AS)

Publicado em: 13/04/2010


Desafios ainda são grandes
Redução da fila foi de apenas 1% no ano passado. 64 mil aguardam por órgão
14/04/2010 00h00
CRISTIANO MARTINS
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Doze anos se passaram desde que Darli Machado, 38, descobriu que tinha doença de Chagas. Durante o período, testemunhou o nascimento de seus dois filhos e conviveu diariamente com o drama de não saber se seu coração o manteria vivo o suficiente para vê-los crescer. Até que, no ano passado, a espera na fila do transplante chegou ao fim. Ele foi um dos 20.253 brasileiros que receberam novos órgãos e tecidos em 2009. "Agora é só felicidade. É outra vida", comemora.

Com o aumento de 5% no número de transplantes realizados em relação a 2008, o Brasil alcançou o melhor resultado de sua história no setor. A taxa de doadores efetivos - cujos órgãos captados são, de fato, transplantados - subiu de 7,2 para 8,7 por milhão da população (pmp), superando a meta da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), que era 8,5. "Se considerarmos que os transplantes são o processo mais complexo do sistema, o aumento é muito expressivo", avalia Rosana Nothen, coordenadora do Sistema Nacional de Transplantes.

Mas, apesar dos avanços, ainda foram poucos os que puderam comemorar. 63.866 pessoas tiveram que adiar para 2010 o sonho de deixar as listas de espera, que apresentaram redução de apenas 1%. E, infelizmente, para muitos deles esse momento pode não chegar: dois a cada três pacientes na fila por um fígado, por exemplo, morrem antes de conseguir o transplante.

No ano passado, 49,2% das equipes cadastradas no país não realizaram nenhuma operação. A falta de conscientização e a baixa identificação de potenciais doadores continuam sendo os principais desafios. Cerca de 21% das captações não foram concretizadas devido à recusa familiar, e a efetivação das doações foi de 25,5%, taxa ainda distante da meta da ABTO, de 40%.

As discrepâncias regionais representam outro grande problema. Santa Catarina e São Paulo foram os únicos Estados a alcançar níveis próximos aos de países desenvolvidos - 19,8 e 16,9 doadores pmp, respectivamente. Enquanto isso, em toda a região Norte, apenas Acre e Pará efetivaram doações com falecidos, e a taxa média de doadores pmp foi de 1%.

"Somos o segundo país em número absoluto de transplantes, mas, no relativo, estamos atrasados. Há possibilidade de melhorias, mas existem problemas sérios para solucionar", alerta Ben-Hur Ferraz Neto, presidente da ABTO.