bahia 19.04.2009 - 09h47
Coração feito de plástico e titânio dá esperança para pacientes baianos.
Alexandre Lyrio Redação CORREIO
Durante 15 dias, Misael Santos de Almeida, 23 anos, carregou um coração fora do próprio corpo. Um coração que simplesmente não pulsava. A máquina movida por um sistema pneumático foi ligada ao seu músculo cardíaco e o acompanhou até o momento em que realizou o transplante.
Como a Bahia não tem estrutura para o procedimento, fez tudo em Fortaleza, no Ceará. Mas, a partir deste ano, o exemplo do primeiro baiano a usar um coração artificial pode se estender a outros pacientes. Durante o II Simpósio de Terapêutica Cardiovascular, realizado na última semana, em Salvador, o Hospital Espanhol anunciou para este ano o implante dos chamados ventrículos artificiais.
O coração feito de plástico e titânio serve como uma espécie de ponte para os transplantes cardíacos. Pacientes terminais, vítimas de miocardio patias, podem recorrer ao equipamento e ganhar uma sobrevida antes de conseguir um doador.
A esperança para os baianos que estão na fila à espera de um coração veio do coordenador do serviço de cardiologia do Espanhol, Fábio Vilas Boas. “O coração artificial é uma ferramenta eficiente para os casos, de pacientes mais debilitados. Vamos implantar o procedimento no hospital ainda em 2009”, garantiu o especialista.
Mas o programa de ventrículo artificial só será possível porque a Bahia voltou a realizar transplantes após 16 anos.
Mas o programa de ventrículo artificial só será possível porque a Bahia voltou a realizar transplantes após 16 anos.
De dezembro do ano passado até hoje, a equipe médica do Hospital Santa Izabel fez o procedimento em dois pacientes. “Não há como implantar corações artificiais sem estrutura para transplante. Mas hoje já é perfeitamente possível usar esse tipo de equipamento na Bahia. Poderia haver uma parceria: enquanto o Espanhol implanta, o Santa Izabel transplanta”, sugeriu o diretor do programa de assistência ventricular do Incor (DF), Cristiano Faber, que ministrou palestra sobre o assunto.
Alto Custo
O número de implantes de coração artificial no Brasil ainda é tímido, mas não para de crescer. Segundo Faber, até hoje, em todo o país, foram realizadas cerca de 15 cirurgias do tipo, metade delas nos últimos três anos. Os tipos de aparelhos variam. O modelo AB5000, da americana Abiomed Incorporate, apresentado no simpósio, é um dos dois ventrículos artificiais fabricados no Brasil. É colocado fora do corpo. Custa R$100 mil, sem contar os R$40 mil do console que o acompanha. Devido ao alto custo,não há previsão para ser disponibilizado no SUS.
‘Coração original’ O caso era gravíssimo e necessitava de transplante urgente. Misael transferiu-se às pressas para Fortaleza, onde havia estrutura adequada para pacientes na fila de espera por órgãos. Mesmo assim, chegou a ouvir do médico que tinha poucos dias de vida. Estava desenganado. “A única saída para ele era o coração artificial. Só assim poderia ganhar tempo até a cirurgia definitiva”, diz o cirurgião-chefe do Hospital Messejana, no Ceará, onde o baiano foi submetido ao procedimento. Passou 15 dias com o órgão junto ao abdome. Para onde ia, tinha que levar um console que alimentava o aparelho.
O número de implantes de coração artificial no Brasil ainda é tímido, mas não para de crescer. Segundo Faber, até hoje, em todo o país, foram realizadas cerca de 15 cirurgias do tipo, metade delas nos últimos três anos. Os tipos de aparelhos variam. O modelo AB5000, da americana Abiomed Incorporate, apresentado no simpósio, é um dos dois ventrículos artificiais fabricados no Brasil. É colocado fora do corpo. Custa R$100 mil, sem contar os R$40 mil do console que o acompanha. Devido ao alto custo,não há previsão para ser disponibilizado no SUS.
‘Coração original’ O caso era gravíssimo e necessitava de transplante urgente. Misael transferiu-se às pressas para Fortaleza, onde havia estrutura adequada para pacientes na fila de espera por órgãos. Mesmo assim, chegou a ouvir do médico que tinha poucos dias de vida. Estava desenganado. “A única saída para ele era o coração artificial. Só assim poderia ganhar tempo até a cirurgia definitiva”, diz o cirurgião-chefe do Hospital Messejana, no Ceará, onde o baiano foi submetido ao procedimento. Passou 15 dias com o órgão junto ao abdome. Para onde ia, tinha que levar um console que alimentava o aparelho.
No dia 26 de novembro do ano passado, um motociclista de 28 anos sofreu um acidente nas ruas da capital cearense. Sua morte era a esperança de vida para Misael. No mesmo dia, ele recebeu mais um coração humano. “Agora meu coração não é mais artificial. É original”, brincou. Misael é um jovem humilde, natural da cidade de Santo Antônio de Jesus. Hoje mora com a irmã no bairro do Retiro, periferia de Salvador. Só conseguiu ter acesso ao aparelho porque um grupo de políticos e o governo do estado do Ceará adquiriram seis corações artificiais para o Messejane. O Hospital é líder latino-americano nesse tipo de procedimento, com três corações artificiais implantados. Além dele, apenas os institutos do Coração de São Paulo e do Distrito Federal, o Hospital Albert Einstein, também de São Paulo, e a Fundação de Cardiologia do Rio Grande do Sul já realizaram a cirurgia. Misael ainda usa máscara, mas se recupera bem. “Ele está Misael: primeiro baiano a usar um coração artificial ótimo”, atesta o médico.(Notícia publicada na edição impressa de 19/04/2009 do CORREIO)