sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

ATX-BA - VIVER A VIDA E NÃO A MORTE

Está matéria é uma reflexão que revela a atual situação da violência contra a mulher.
Dra. Sílvia Cerqueira é  soteropolitana, mulher, negra e advogada. Graduada em Direito pela Universidade Católica do Salvador, em 1978, Silvia Nascimento Cardoso dos Santos Cerqueira, nascida em junho de 1954, se define como “militante do movimento negro e do movimento de mulheres, sempre com a missão de unir o ativismo político com o conhecimento jurídico em prol do bem comum”. Possui especialização em direitos humanos e em direito para o afrodescendente.


Viver à vida… e não à morte!          
No primeiro dia da semana resolvi alertar as minhas companheiras, companheiros e acima de tudo as ativistas do movimento de mulheres para que fiquem muito atentas ao feminicídio introduzido em horário nobre, por mais uma novela da Globo que sutilmente está disseminando no imaginário coletivo a legitimidade do cometimento do assassinato da personagem Aline , pelo  personagem César em razão da traição.
 
A trama está tão bem engendrada que a personagem encarna a menina pobre que tem a oportunidade de emprego concedida por um homem rico, profissional bem sucedido que ao se apaixonar pela funcionária se entrega a essa paixão desmedida a ponto de abandonar a família, assumindo todo o ônus inclusive de rejeição social e familiar em nome desse amor para elevar a sua amada á nível de princesa.
 
O perigo da história está exatamente nas consequências que já foram sinalizadas neste último capitulo quando o personagem insinua que fatalmente matará a amada se ficar comprovada a traição, cuja prova será produzida por outra mulher que atua como médica que na trama se coloca como auxiliar da personagem Aline, quando após descascar uma laranja sutilmente pegou a faca colocou no bolso e foi dormir.
 
A construção da trama neste particular foi milimetricamente construída no sentido de justificar o crime, basta que se veja a causação da cegueira do César, através de envenenamento, ele que era um adúltero de  logo se tornou o homem apaixonado, caseiro, presenteador, enfim um exemplo de homem apaixonado tudo com vistas a fazer com que  ela merecesse o assassinato.
 
Hoje no Brasil independentemente de se gostar ou não de novelas assisti-las ou não, de uma forma ou outra esse assassinato se deixarmos acontecer ele virá como punição apropriada e adequada para todas as mulheres que cometerem a traição e por extensão e o que é pior chancelar neste século a morte de mulheres praticadas por homens.
 
Observem as companheiras e os companheiros parceiros na luta em combate á violência doméstica contra a mulher que está trama está se desenvolvendo em um momento crítico em que estamos assistindo uma avalanche de assassinatos de mulheres praticados pelos seus parceiros acompanhadas das motivações mais banais que possam existir, inclusive a de que é “A mulher quem provoca a violência”.
 
Embora entendamos que não existe nada absolutamente nada que justifique a prática de um Homicídio, independentemente de sexo, ressalvando-se os casos estritamente previstos em lei.
Assim, companheiras ativistas mais uma vez se faz necessário nos mobilizarmos para impedir que diante dos nossos olhos esse autor com a nossa chancela venha a invadir ás nossas casas e sob a nossa chancela e aplausos nacionais reforce e legitime o assassinato de mais uma mulher que servirá de estimulo para que se deflagre assassinatos contra mulher em série no nosso país.
Autor: Sílvia Cerqueira.