terça-feira, 21 de agosto de 2012

ATX-BA - Hepatite C em números - Qual é o verdadeiro?

21/08/2012
Hepatite C em números - Qual é o verdadeiro?

Os números oficiais de casos de hepatite C, notificados e confirmados, que se encontram no Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan Net - do Ministério da Saúde são três vezes superiores aos divulgados, também de forma oficial, no Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde - Departamento de AIDS, DST e Hepatites Virais. Quem esta divulgando o número correto de casos de hepatite C?
Conforme o Boletim Epidemiológico das Hepatites Virais da Secretaria de Vigilância em Saúde - Departamento de AIDS, DST e Hepatites Virais divulgado em 25 de julho de 2012, o total de Casos de Hepatite C notificados entre os anos de 1999 e 2010 totalizam 82.041 casos. Nesse Boletim Epidemiológico é informado na página 12 que esses são os casos confirmados, especificando que são aqueles que apresentaram resultados anti-HCV e HCV-RNA reagentes, entre 1999 e 2010. Já o total de casos de hepatite C confirmados pelo SINAN entre os anos de 2001 e 2010 foi de 241.972 casos, especificando que são casos confirmados por apresentar resultados anti-HCV reagente, não sendo exigida a realização do HCV-RNA. O SINAN informa os seguintes casos confirmados a cada ano: 2001 - 5.133
2002 - 6.257
2003 - 8.951
2004 - 14.463
2005 - 16.657
2006 - 16.725
2007 - 41.992
2008 - 43.344
2009 - 47.482
2010 - 40.668
Total: 241.972

Aparentemente não existe qualquer explicação para a diferença de 160.000 casos de hepatite C entre os dados do SINAN e os da Secretaria de Vigilância em Saúde - Departamento de AIDS, DST e Hepatites Virais, ambos departamentos do Ministério da Saúde.
Para abrir a discussão pergunto se é necessário que todos os indivíduos com resultado anti-HCV reagente tenham que realizar o HCV-RNA para serem considerados como infectados com hepatite C e assim serem incluídos no Boletim Epidemiológico? A exigência dessa confirmação não está ocultando o real número de infectados diagnosticados?

É amplamente conhecido e aceito pela comunidade científica internacional que aproximadamente 85% dos indivíduos com resultado anti-HCV estão cronicamente infectados com hepatite C, portanto o HCV-RNA será reagente. Assim, 85% dos 241.972 casos anti-HCV deveriam ser confirmados se todos tivessem realizado o HCV-RNA e, então o número de infectados que deveria constar no Boletim Epidemiológico seria de aproximadamente 200.000 casos e não, como colocado erradamente de tão somente 83.041 casos.
Se o objetivo do número constante no Boletim Epidemiológico é demonstrar que os infectados diagnosticados recebem tratamento no SUS o número informado é perfeito para tal finalidade, pois por ele se mostra que praticamente todos os infectados recebem tratamento no SUS, mas pelo número real de casos reagentes mostrado pelo SINAN a equação fica diferente, pois somente 30% dos diagnosticados teriam recebido tratamento no SUS no período de 10 anos. Sempre denunciamos que a hepatite C por permanecer oculta não recebe a necessária atenção do governo federal e essa "tesourada" no real número de casos diagnosticados parece ser mais uma das armas utilizadas para esconder a hepatite C da população. Ao não aparecer nas estatísticas e divulgações oficiais como uma epidemia que atinge um grande número de indivíduos, por existir um critério como a obrigatoriedade da exigência da realização do HCV-RNA, a hepatite C continuará oculta. Conhecida é a dificuldade de se conseguir realizar o HCV-RNA, pior ainda, pois fica evidente que não existe uma busca ativa dos indivíduos que realizaram o anti-HCV com resultado reagente, os quais não estão sendo encaminhados para realizar o HCV-RNA.
Devido a tal procedimento burocrático (ou suspeitosamente proposital?) nos encontramos ante o dramático quadro com mais de 120.000 infectados com hepatite C que apesar de positivos estão desassistidos e excluídos do sistema de saúde, sem receber o necessário atendimento médico.
Com qual dos dois dados devemos trabalhar para conhecer a realidade dos casos de hepatite C diagnosticados no Brasil. Devemos nos guiar com a realidade mostrada pelo SINAN aplicando-se os 85% ou com o do Boletim Epidemiológico das Hepatites Virais da Secretaria de Vigilância em Saúde - Departamento de AIDS, DST e Hepatites Virais que pela exigência de um teste difícil de realizar na rede pública, oculta 65% dos casos diagnosticados? Fonte dos dados:

Relatório SINAN:
http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/
Boletim Epidemiológico:
http://www.aids.gov.br/publicacao/2012/boletim_epidemiologico_de_hepatites_virais_2012