25/09/2009 , às 14h33
Transplantes de órgãos crescem 24,3%
Aumento é relativo ao número de procedimentos realizados com órgãos de doadores falecidos no primeiro semestre de 2009 em relação ao primeiro semestre de 2008. Ministério da Saúde lança campanha neste domingo para ampliar doações.
Dados mais recentes do Ministério da Saúde mostram que o número de transplantes de órgãos realizados em todo o país, com doador falecido, subiu 24,3% no primeiro semestre de 2009 em comparação com o mesmo período de 2008.
Entre janeiro e junho de 2009, foram feitos 2099 transplantes de órgãos. Em 2008, no mesmo período, foram 1688. Nesse mesmo intervalo, houve crescimento nacional da quantidade de transplantes de rim de 30,28% (ver tabela abaixo). O transplante de fígado aumentou 23,17%.
Para ampliar ainda mais essas estatísticas e sensibilizar a população para a importância de informar os familiares e amigos sobre a intenção de ser doador, o Ministério da Saúde lança, neste domingo (27), a Campanha Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos.Tendo a conversa como tema, a campanha mostrará a importância de comunicar aos familiares a decisão de se tornar um doador. As peças publicitárias esclarecem que uma pessoa não precisa deixar nada escrito, mas simplesmente comunicar sua família a intenção de ser um doador. Com o slogan “A vida é feita de conversas. Basta uma para salvar vidas”, a nova campanha de doação de órgãos começa a ser veiculada no domingo (27) nas televisões e rádios de todo o Brasil.
A grande ação voltada para o aumento no número de doações no país vai começar com partidas de futebol de areia no Rio de Janeiro. Cinco times vão disputar o jogo na Praia de Ipanema, no campo de areia do Posto 10, a partir das 9h. Uma das equipes é formada exclusivamente por pessoas que passaram por transplantes de órgãos. A atriz da novela global Danielli Haloten - a personagem Anita, de Caras e Bocas - é uma das protagonistas da campanha. Danielli, que é deficiente visual, passa a mensagem que não é necessário deixar nenhum documento por escrito, nem uma guia ou mesmo usar a linguagem Braile para deixar claro sua vontade de doar órgãos. Basta usar as palavras ou os gestos para declarar sua vontade.
“De 2004 a 2008, dobramos o nosso gasto com transplantes, mas, além de recursos materiais, precisamos do bem mais valioso e mais escasso, que são os órgãos doados. Por isso, reforçamos a necessidade da população se engajar na campanha, não somente autorizando a doação, mas também exercendo seu direito de informação e decisão sobre este assunto perante a morte de um familiar”, afirma Rosana Nothen, coordenadora do Sistema Nacional de Transplantes (SNT). Em 2004, o gasto com transplantes foi de R$ 409,4 milhões e, quatro anos depois, atingiu R$ 824,2 milhões.
Muitas vidas têm sido salvas a cada ano no Brasil. No entanto, ainda há muito há ser feito. O balanço de transplantes de córneas, que não está incluso no de órgãos, mostrou leve queda de 2,33% no primeiro semestre de 2009 frente ao mesmo período de 2008. Os transplantes de coração caíram 2,04% e o de pulmão,15,38%.
A quantidade de transplantes de córneas realizados caiu percentualmente porque alguns estados, como São Paulo e Mato Grosso do Sul, conseguiram zerar a lista de espera para córnea e, dessa forma, diminuíram a demanda reprimida de pacientes que necessitavam de córneas. Assim, reduziu-se a quantidade de transplantes. Isso não significa que não há pessoas esperando, já que as inscrições são constantes, mas os pacientes conseguem receber suas córneas com tempo de espera pequeno de, aproximadamente, um mês.
No caso de coração e de pulmão, a queda ocorre devido a impeditivos, como o tempo de isquemia e as condições de manutenção do doador, ou seja, eles resistem menos tempo sem circulação e oxigenação. “Quanto mais tardia a constatação da morte encefálica, mais complicado é o aproveitamento de todos os órgãos, mas sabemos que coração e pulmão acabam sendo os mais prejudicados pela demora no diagnóstico”, afirma Rosana. Estatísticas internacionais estimam que a chance de utilização dos órgãos de cada doador é em torno de 70 a 80 % para os rins e fígado; de 20% para o coração e de 15% para os pulmões.
ESPERA
– A lista de espera por um transplante no Brasil diminuiu 1% entre dezembro de 2008 e julho deste ano, quando 63,8 mil pessoas aguardavam por um transplante no país. No fim do ano passado, era de 64,4 mil pessoas. O aperfeiçoamento dos processos de gestão das centrais estaduais tem participação nesta redução, à medida que a listas têm sido atualizadas e pacientes recadastrados. O volume de transplantes de córneas realizados no estado de São Paulo também fez a lista geral de espera diminuir. Só no primeiro semestre deste ano, foram 2.948 córneas transplantadas apenas nos hospitais paulistas. No Brasil, foram 6.151 procedimentos desse tipo. “Aumentar o número de doadores é o grande objetivo a ser perseguido para equacionar melhor as demandas por transplantes”, diz Rosana Nothen.
O Brasil ainda apresenta uma quantidade pequena de doadores por morte encefálica por milhão de população (pmp). Em 2008, a cada 1 milhão de brasileiros, havia 7,2 doadores nessa situação. No México, essa taxa era de 3,1 pmp e, na Venezuela, de 3,3 pmp. Na Argentina, a proporção era de 13,1 pmp e, em Cuba, de 16,6 pmp. Nos Estados Unidos, o índice era de 26,3 pmp, na França, de 25,3 pmp e, na Espanha, de 34,2 pmp.
RECURSOS
– O Brasil tem obtido uma melhora expressiva na quantidade de transplantes graças aos investimentos feitos pelo Ministério da Saúde nessa área. Entre 2004 e 2008, os gastos com transplantes aumentaram 101,34%, passando de R$ 409,4 milhões, em 2004, para R$ 824,2 milhões, em 2008. O SUS financia todos os procedimentos relativos aos transplantes, desde os exames para inclusão em lista de espera até o acompanhamento pós-transplante. O SUS fornece também toda a medicação imunossupressora, necessária por toda a vida dos pacientes que se submetem aos procedimentos. “Poucos países no mundo têm uma política de atenção ao paciente já transplantado que garanta toda assistência, inclusive o fornecimento da medicação imunossupressora”, afirma Rosana.
A ampliação em 280% do número de unidades habilitadas para a realização de transplantes em 10 anos também contribuiu para a melhora das estatísticas. Em 1999, eram 140 unidades autorizadas a realizar transplantes. Em 2009, esse número saltou para 532. Além disso, o treinamento dos profissionais ajudou a ampliar a quantidade de doações. De 2000 a 2009, foram realizados 45 cursos de capacitação com a participação de 3.334 profissionais da área de doação para transplantes.
MEDULA – O Brasil já ultrapassou a marca de 1 milhão de doadores de medula, tornando-se o terceiro maior banco de dados do gênero no mundo fica atrás apenas dos registros dos Estados Unidos (5 milhões de doadores) e da Alemanha (3 milhões de doadores). De 12 mil doadores em 2000, o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome) evoluiu até 24 de setembro para 1.267.880 doadores inscritos. Dos transplantes de medula realizados em 2000, apenas 10% dos doadores foram brasileiros localizados no Redome. Em 2009, esse percentual passou para 70%. O Redome está integrado ao banco de dados dos Estados Unidos e o Brasil planeja fazer um cadastro comum com os países do Mercosul. “Esse integração é fundamental para atender os pacientes que não têm doadores compatíveis na família”, avalia Rosana. “Apesar de tudo o que foi feito para desenvolver o Redome, ainda achamos apenas 54% dos doadores necessários. É preciso trabalhar com diversidade étnica para que o registro espelhe a representatividade genética da população”, diz Rosana.
CÓRNEA– No primeiro semestre deste ano, foram realizados 6.151 transplantes de córnea no Brasil. Esse tipo de procedimento ocorre em maior quantidade que o de órgãos por diversos motivos. As córneas, os tecidos e ossos podem ser captados de um doador com o coração parado (já não bate coração e nem respira) até seis horas após sua morte, enquanto os órgãos sólidos necessitam necessariamente ser retirados de doadores em morte encefálica (coração batendo e respirando com auxílio de máquinas). Além disso, cada doador pode doar duas córneas. A córnea dura até 14 dias após processada em Banco de Tecidos, enquanto os órgãos sólidos duram algumas horas em isquemia (fora do corpo). O coração e o pulmão, por exemplo, podem ficar somente quatro a seis horas fora do corpo, o fígado, 12 a 18 horas e os rins, 24 a 36 horas. Outra razão é que a cirurgia de córnea pode ser realizada em ambulatórios sem que os pacientes precisem ficar internados de um dia para o outro.
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