01/09/2012 06h24
- Atualizado em
01/09/2012 06h24
Brasil tem o terceiro maior registro de doadores de medula óssea do mundo
Redome é gerenciado pelo INCA e tem cerca de 3 milhões de pessoas na lista de voluntários, perdendo apenas para os Estados Unidos e a Alemanha
Número de doadores de Medula Óssea cresce: Brasil é o terceiro maior registro do mundo (Foto: Divulgação)
O Brasil possui o terceiro maior registro de doadores de medula óssea
do mundo. Perde apenas para os Estados Unidos e para a Alemanha. Os
quase 3 milhões de voluntários dispostos a doar células-tronco da medula
óssea estão cadastrados no Registro Nacional de Doadores de Medula
Óssea, idealizado em 1993. Gerenciado pelo Instituto Nacional do Câncer
(Inca), com sede no Rio de Janeiro, o Redome teve um aumento de 16.000%
no número de cadastros desde 2000.
“Antes do Redome, a alternativa era procurar o doador na família. E
isso limitava bastante. Geralmente, é possível encontrar compatibilidade
entre irmãos. Cada um tem cerca de 25% de chance de ser compatível.
Hoje em dia, com o Redome, a chance inicial é de 70%”, compara o
hematologista e diretor
do Centro de Transplante de Medula Óssea do Inca Luís Fernando Bouzas.
Hoje, 1.050 pessoas estão à procura de um doador compatível de medula
óssea no país.
Para ser doador de medula óssea, em casos não aparentados, é preciso se cadastrar no Redome. Para isso, é preciso ter entre
18 e 55 anos, e dirigir a um dos hemocentros do país. Depois de
preencher o cadastro, os interessados assistem a uma palestra onde
especialistas irão orientar e tirar possíveis dúvidas. Em seguida, será
coletada uma pequena amostra de sangue para fazer um rastreamento de
doenças transmissíveis pelo sangue como toxoplasmose, HIV ou doenças
como anemia congênita e câncer, mas também para identificar o complexo
principal de histocompatibilidade (MHC).
Hematologista do Inca, Luís Fernando Bouzas:
Medula Óssea (Foto: Divulgação)
Medula Óssea (Foto: Divulgação)
O MHC é um grupo de genes encontrado no cromossomo 6 com papel
fundamental no sistema imune e autoimune dos seres humanos. “Lembra
quando se fala de rejeição? Pois, então, quando se rejeita um órgão
transplantado é porque esses genes do doador não são compatíveis com o
da pessoa transplantada. São eles que rejeitam o órgão”, explica Luís
Fernando Bouzas. "Muitos confundem a compatibilidade ao tipo sanguíneo e
até mesmo com o sexo ou raça. Não é bem assim. A compatibilidade ou não
entre paciente e doador de transplante está no Complexo Principal de
Histocompatibilidade", continua.
Do outro lado, do lado do paciente, o médico o inscreve em outra lista,
o Registro Nacional de Receptores de Medula Óssea. Assim, os dados do
Roreme e do Redome são cruzados. Ao identificar o doador, o Redome entra
em contato com a pessoa para que se comece uma batelada de testes para
complementar as informações do exame de sangue feito lá no início. “Uma
pessoa pode ficar muito tempo na lista de doador. Ele pode até ter
desistido”, explica. Entre os testes, são feitos exames para saber se há
doenças infecciosas, hepatite, problemas cardíacos, entre outros
possíveis riscos. É fundamental que o doador esteja em boa saúde e não
tenha doenças do coração.
São necessários de três a quatro meses entre exames e esperas para
saber se o doador é realmente compatível. Nos dias que antecedem a
cirurgia, não há exigência quanto à mudança de hábitos de vida, trabalho
ou alimentação. A doação é feita em centro cirúrgico, sob anestesia, e
tem duração de aproximadamente duas horas. São realizadas múltiplas
punções, com agulhas, nos ossos posteriores da bacia onde é aspirada a
medula. “A doação tradicional é feita com anestesia, porque a punção
dói. Mas o único risco para o paciente está na anestesia”, explica o
hematologista do Inca.
Durante o transplante, retira-se de 10 a 15% da medula do doador e 15
dias após a doação, a pessoa terá a reposição completa do tecido
líquido-gelatinoso. O doador ainda poderá fazer outra doação, caso seja
do seu interesse, depois de seis meses da última cirurgia.
O Redome faz parte de uma rede internacional de mais de 20 milhões de possíveis doadores. Por isso, é possível fazer busca na Bone Marrow Donors Worldwide (BMDW) e em minutos ter a comprovação de compatibilidade com doadores de outras partes do mundo.
Mas o transplante de células-tronco hematopoéticas da medula óssea não é
o único meio para se ajudar um paciente. Há também o sangue do cordão
umbilical placentário e o transplante haploidêntico, para o caso de o
doador não ser totalmente compatível com o paciente. O sangue do cordão
umbilical e placentário é uma rica fonte de células progenitoras. Ele
vem sendo utilizado como modelos terapêuticos onde é indicado o
transplante de medula óssea. No entanto, a quantidade de células-tronco é
suficiente para transplantar em pessoas com até 50 quilos. Para
adultos, um cordão umbilical não basta. Se houver mais de uma pessoa
compatível e número de células suficiente, é possível realizar o
transplante dessas células progenitoras em adultos.
Vanderson Rocha: medula óssea
(Foto: Divulgação/Hospital Sírio-Libanês)
(Foto: Divulgação/Hospital Sírio-Libanês)
“Quando o doador não é compatível com o paciente, os linfócitos do
doador atacam as células do paciente. E isso é mortal. Com algumas
técnicas do transplante haploidêntico, podemos selecionar células que
não queremos transplantar – como os linfócitos, por exemplo. As células
passam por uma seleção para escolhermos as células tronco
hematopoéticas”, explica o coordenador da Unidade de Transplante de
Medula Óssea do Hospital Sírio-Libanês Vanderson Rocha. Mas as técnicas
são experimentais e pode haver risco de infecção para o paciente. “É
preciso todo o tipo de cuidado com as infecções e com a doença do
enxerto-contra-hospedeiro”, explica Vanderson Rocha, complicação comum
em transplantes de medula óssea. Por isso, em algumas técnicas, o médico
aumenta o coquetel de drogas imunossupressoras ou é feito o uso da
ciclofosfamida depois do transplante.
“Hoje, com as novas técnicas e tecnologias, o problema não está mais em
encontrar doador, mas, sim, leitos disponíveis para se fazer os
transplantes”, explica o médico.
Número de transplantes realizados por busca do Roreme: medula óssea (Foto: Divulgação/Inca)
http://redeglobo.globo.com/globociencia/noticia/2012/09/brasil-tem-o-terceiro-maior-registro-de-doadores-de-medula-ossea-do-mundo.html