quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

ATX-BA - Notícias

GRUPO OTIMISMO DE APOIO AO PORTADOR DE HEPATITE
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27/01/2010


Hepatite C - Tratamentos pelo SUS previstos para 2010
Uma analise dos dados

Realizando uma analise dos últimos três anos na quantidade de pacientes tratados de hepatite C atendidos no sistema público de saúde no Brasil, o SUS, e, confrontando os dados com a previsão de entrega de medicamentos para o primeiro trimestre de 2010 é perfeitamente possível projetar os dados e assim poder estimar o que acontecerá no ano de 2010 no atendimento aos infectados com hepatite C.

Caso seja cumprida a previsão de tratamentos que estão sendo ofertados, o ano de 2010 permitirá que aproximadamente 11.555 pacientes recebam tratamento com interferon peguilado e 1.860 pacientes sejam tratados com o interferon convencional, representando uma promessa de aumento entre 7% e 10% no número de pacientes beneficiados em relação ao ano de 2009. Os dados apresentados são referentes pura e exclusivamente a pacientes tratados gratuitamente no SUS, não incluindo tratamentos particulares, estimados em aproximadamente 4.000 tratamentos por ano.

A tabela seguinte mostra a quantidade prevista de medicamentos distribuída a cada estado para o primeiro trimestre do ano de 2010, na coluna a seguir o número de pacientes que estarão em tratamento com cada interferon e, como forma de checar a informação, na última coluna e informado o número de cápsulas de ribavirina que estarão sendo distribuídas.

PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2010 - MEDICAMENTOS DISTRIBUIDOS

CONSIDERAÇÕES E COMENTÁRIOS SOBRE A INTERPRETAÇÃO DA TABELA:

1 - Poderão acontecer variações nas quantidades devido à falta de requisição ou de prestação de contas de algumas secretarias estaduais da saúde, mas elas pouco afetarão o resultado final, já que os seis principais estados, representando 86% do consumo apresentam dados corretos. Não será a desculpa de estados que tratam uma meia dúzia de pacientes, vir a reclamar que na realidade estão tratando uma dúzia, pois isso em nada altera o quadro geral.

2 - Cinco estados, pela ordem, São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná realizarão 8.115 tratamentos no primeiro trimestre, representando 83,35% do total de pacientes em tratamento no Brasil. São Paulo consegue tratar 52,4% do total de pacientes do Brasil.

3 - Em contraste, doze estados somente conseguem oferecer tratamento a 292 pacientes, representando 3% do total de tratamentos, sendo que a população esses estados representam 17% da população brasileira. Os estados: Alagoas, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Roraima, Rondônia, Sergipe e Tocantins.

4 - A população dos cinco estados que mais tratam pacientes e de 99 milhões de pessoas. Um em cada 12.200 habitantes da região recebe tratamento para hepatite C. Na região dos 12 estados que menos tratam a população e de 31.800.000. Um em cada 126.190 habitantes recebe tratamento.

5 - A desigualdade no acesso ao tratamento e de 10 para 1 ao se comparar as duas regiões analisadas nos parágrafos anteriores.

COMENTÁRIOS GERAIS

A estatística permite realizar as seguintes colocações:

1 - Serão tratados em 2010, utilizando interferon peguilado e ribavirina, aproximadamente 11.555 pacientes. O custo com medicamentos para 40 semanas de tratamento (considerando as interrupções) e de R$. 14.700,00 por tratamento, representando uma despesa anual de 170 milhões de reais.

2 - Utilizando interferon convencional e ribavirina serão tratados em 2010 aproximadamente 1.860 pacientes. O custo com medicamentos para 24 semanas de tratamento e de R$. 1.600,00 por tratamento, representando uma despesa anual de três milhões de reais.

3 - A despesa total do ministério da saúde com medicamentos para tratamento da hepatite C representará aproximadamente 173 milhões de reais.

4 - A hepatite C atinge seis vezes mais brasileiros que o HIV/AIDS, sendo estimado que existam no Brasil 600 mil infectados com HIV e entre 3 e 4 milhões de infectados com hepatite C.

5 - O tratamento do HIV (AIDS) custa ao governo R$. 3.220,00 reais por ano para cada paciente. Aproximadamente 200.000 pacientes estão em tratamento, representando uma despesa com medicamentos de aproximadamente 644 milhões de reais.

6 - O orçamento total para atendimento da epidemia de HIV/AIDS, considerando medicamentos, atendimento, exames, ações de governo, publicidade, convênios e capacitação e superior aos 2 bilhões de reais. Isso representa que estão previstos no orçamento de 2010 aproximadamente três mil e trezentos reais para cada um dos 600 mil infectados para enfrentar o grave problema que a AIDS representa.

7 - Ao considerar o orçamento para atender a epidemia de hepatite C, tão ou mais grave que a epidemia de AIDS, incluindo além dos 173 milhões de medicamentos os valores gastos com atendimento, exames, ações de governo, publicidade, convênios e capacitação, a despesa total e estimada em aproximadamente 350 milhões de reais. Existindo em media 3,5 milhões de infectados, estão previstos no orçamento da saúde R$. 100,00 para cada infectado.

8 - É necessário e urgente aumentar o número de pacientes atendidos, pois se continuarmos a tratar uma media de 13.500 pacientes a cada ano, para atender os entre 3 e 4 milhões de brasileiros que estão vivendo infectados pela hepatite C, serão necessários mais de 250 anos caso todos necessitem ser tratados.

Finalizando, fica no ar uma pergunta para a qual nunca tive resposta: Por que a AIDS recebe 33 vezes mais recursos e atenção que a hepatite C do governo federal?

Em tempo: A pesquisa nos dados não constitui uma critica ao ministério da saúde, pelo contrario, tentam ajudar na interpretação e compreensão da grave situação da hepatite C, servindo como um alerta sobre a necessidade de se dar maior atenção a epidemia.

Fico feliz de observar que se tudo o planejado para 2010 for realizado, teremos um aumento na quantidade de tratamentos oferecidos entre 7 e 10% em relação ao ano de 2009. Não é um grande avanço, mas ante a falta de centros de tratamento para hepatite C (os existentes estão totalmente lotados, até trabalhando acima da capacidade) e o passo que pode ser dado neste momento.

Carlos Varaldo
Grupo Otimismo