segunda-feira, 5 de julho de 2010

ZERO HORA

04 de julho de 2010
BATALHA PELA VIDA
No front pela doação de órgãos
Enquanto a Alemanha faz campanha para mobilizar população a se cadastrar como doador, Israel se prepara para nova lei.
Diversos países lutam, à sua maneira, contra um inimigo comum: o baixo número de doações de órgãos, uma prática que é a única saída para diversas doenças. Na Alemanha, por exemplo, embora 60% da população seja a favor das doações, apenas 14% a 17% se tornam efetivamente doadores. Incrementar esse número é a meta de uma grande campanha em vigor no país.

Lá, há 12 mil pessoas à espera de um transplante e entre 2 mil e 3 mil morrem a cada ano, aguardando uma doação, de acordo com dados do governo alemão. Grupos pró-doação da Alemanha, como o Pro Organspende, tentam conscientizar sobre o problema. Cartazes com personalidades alemãs como o diretor de cinema Roland Emmerich, o boxeador Arthur Abraham ou o ator Til Schweiger (que fez o papel do ex-nazista Stiglitz no filme Bastardos Inglórios) estão espalhados por Berlim, com um apelo pela solidariedade dos alemães: “Você recebe tudo de mim. E eu, de você?”.

Os índices de doação vêm caindo nesse país, apesar de uma lei relativa aos transplantes de órgãos que entrou em vigor em 1997. Nem todos os hospitais atuam da forma ideal, deixando que alguns casos de morte cerebral de potenciais doadores não sejam aproveitados, afirmou, em entrevista à rede alemã Deutsche Welle, Roland Hetzer, diretor do Instituto Alemão de Cardiologia, em Berlim.

Mas a legislação nem sempre é o principal fator na luta pelo aumento no doação de órgãos. Quem assegura isso é Rafael Matesanz, fundador e diretor da Organização Nacional de Transplantes (ONT) da Espanha, órgão ligado ao Ministério da Saúde espanhol. A Espanha é a campeã mundial de doações por manter profissionais exclusivamente encarregados de lidar com a disponibilidade e logística dos órgãos.

A figura do coordenador de transplantes nos hospitais, um escritório central que apoie todo o processo de doação de órgãos, grande esforço em treinamento e educação caracterizam o modelo espanhol.

– Graças a esse sistema de organização das estruturas e de pessoal, o número de doadores de órgãos saltou de 550 em 1989 para 1.607 em 2009. A proporção atual de 34,4 doadores por milhão de pessoas é, de longe, a mais alta do mundo – diz Matesanz.

Princípio olho por olho será usado em Israel

Em toda a União Europeia, por exemplo, essa taxa é de 16, nos Estados Unidos, 26. No Brasil, a proporção é quatro vezes menor do que a da Espanha: a taxa é de 8,7 doadores por milhão.

Israel é um dos países que se espelharam no modelo espanhol para aprimorar suas políticas nesse setor. Mas inovou por uma lei que deve entrar em vigor a partir de outubro. Quem tiver familiares doadores ou se registrar como doador ganhará prioridade na fila de espera por um órgão. A legislação olho por olho reflete uma situação particular de Israel em relação aos judeus ultraortodoxos, que são contra a doação porque não aceitam a morte encefálica pelo fato de ela não ser mencionada no Talmud (livro religioso), mas aceitam receber órgãos, explica seu idealizador, Jacob Lavee (confira entrevista).

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LAURA SCHENKEL
Formas de consentimento para doação
Consentimento informado:
- Necessita autorização expressa da pessoa em vida ou dos familiares após a sua morte. É utilizado em vários países, como Brasil (exige consentimento do cônjuge ou dos familiares de 1º ou 2º grau), EUA, Canadá, Grã-Bretanha, entre outros.

Consentimento presumido:
- Se a pessoa em vida não se registrou como “não doador” (registro informatizado de não doador), o Estado presume que seja doadora. Há dois tipos de consentimento presumido:
- 1. Forte: se não está registrado como “não doador”, o Estado o considera como doador e os órgãos podem ser removidos após a sua morte, sem comunicar previamente a família. Utilizado com sucesso na Áustria.
- 2. Fraco: se não está registrado como “não doador”, o Estado o considera como doador, e os familiares são comunicados e podem negar a doação, devendo assinar um documento. Utilizado em vários países da Europa (Portugal, Itália, França, Bélgica) e da América Latina (Argentina, Costa Rica).
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