Helga Cirino*, do A TARDE
Fernando Vivas / Agência A TARDE
Jane Miranda fez transplante de pâncreas e ressalta a importância da doação .
A prioridade para crianças e adolescentes de até 18 anos na fila para receber órgãos de doadores da mesma faixa etária, uma das novas regras para transplantes no País, foi bem recebida por militantes da causa. A coordenadora da Associação de Pacientes Transplantados do Estado da Bahia (ATX) Márcia Chaves acredita que, será possível aumentar o banco de doações na Bahia, que, segundo ela, “é muito pequeno”. Atualmente, há 3.808 pessoas na fila por transplantes no Estado. A maioria, 2.618, espera por um rim.
Para o titular da Coordenação do Sistema Estadual de Transplantes (Coset), Eraldo Salustiano de Moura, o maior desafio para o aumento do número de transplantes no Estado é a recusa das famílias em doar os órgãos das vítimas de morte encefálica . “Neste ano, em Feira de Santana, 100% das famílias entrevistadas não aceitaram doar os órgãos de seus familiares com diagnóstico de morte encefálica. Em Barreiras 80% recusaram e em Salvador, 60% disseram não”, informou ele.
De acordo com as estatísticas do Sistema Nacional de Transplantes, a Bahia está em 10° lugar em número de transplantes no País. Atrás de outros estados nordestinos como Pernambuco e Ceará, que estão em 4° e 7° lugares, respectivamente, no ranking nacional. O primeiro é o Estado de São Paulo, com 3.902 transplantes realizados neste ano. A Bahia realizou 131.
Salustiano também vê com otimismo a nova regulamentação. Ele aposta principalmente na maior disponibilidade de recursos para o trabalho de capacitação dos profissionais de saúde para a abordagem das famílias nas unidades hospitalares. “É preciso muito investimento em educação para o convencimento das famílias em permitir a doação dos órgãos”.
A nova regulamentação do Sistema Nacional de Transplantes foi anunciada pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anteontem e passará a vigorar a partir de sua publicação no Diário Oficial da União.
A coordenadora da ATX, Márcia Chaves também comemorou as novas regras que permitem que doadores que tenham alguma doença transmissível, como hepatite, possam doar seus órgãos a pacientes que tenham a mesma enfermidade. “Os transplantados devem ter muita consciência quando tomarem a decisão de aceitarem o transplante com ‘órgãos marginais’, mas a mudança vai salvar muitas vidas”, alertou.
Transplantados - Para a transplantada Jane Miranda, advogada aposentada, uma das melhores mudanças é a transparência que vai proporcionar o novo programa. “Permitirá à equipe médica a atualização online do prontuário do paciente e quem estiver à espera de um órgão também poderá ver na internet a sua posição e o andamento da fila”, comemorou.
De acordo com ela, o grande avanço na Bahia será conseguir executar as mudanças. “Seria uma vitória se os pacientes pudessem acompanhar tudo pela internet”, afirmou Jane.
Ela ressalta a importância de uma política de transplante na Bahia. “Que vai incentivar tanto a doação de órgãos quanto a necessidade de sobrevida dos pacientes”, alertou. A mulher descobriu que tinha diabetes em 1995, depois de receber uma das melhores notícias de sua ida: a de que estava grávida.
Ela lutou por sete anos pela vida até que conseguiu um doador. “Fiz o primeiro transplante de pâncreas da Bahia”. Hoje com o filho aos 14 anos, ela esbanja alegria. “Meu filho é muito lindo, a coisa mais linda do mundo. Defendo a causa dos transplantados e sempre defenderei”, afirmou.
A transplantada Margareth de Lourdes Soares, 32 anos, administradora, também acredita que a lei só vai beneficiar a política de doações de órgãos. “O aproveitamento de órgãos marginais só vai aumentar os índices de transplantados na Bahia, além de fornecer uma sobrevida a milhões de pacientes”, disse.
Ela realizou um transplante de córnea em 1999. “Um simples gesto de um familiar de uma vítima trouxe luz a minha vida. Hoje posso ver”, contou orgulhosa.
Outras mudanças - A doação entre não aparentados que, pela regra antiga, era feita com autorização judicial, gora terá que passar pelo aval de uma comissão de ética formada por funcionários dos hospitais.
O impacto da implementação da nova legislação, que inclui aumento nos valores pagos pelo SUS a procedimentos ligados a transplantes, será de R$ 24,1 milhões no orçamento do Ministério da Saúde até o final do ano que vem. Segundo o coordenador da Coset, desses recursos em torno de R$ 3 milhões serão destinados para a Bahia.
*Colaborou Maiza de Andrade