segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Folha OnLine

28/02/2011 - 10h58


Nos EUA, nova proposta para doação de rim favorece jovens
GARDINER HARRIS
DO "NEW YORK TIMES"

Pela proposta em estudo na rede norte-americana de órgãos para transplantes, pacientes jovens terão mais chances de conseguir melhores rins que os mais velhos.

Sistema de transplantes cria problemas de distribuição

A nova política substituiria o atual sistema de ordem de chegada (quem chega primeiro, recebe antes o órgão) e tem o objetivo de oferecer um ajuste melhor entre a expectativa de vida de quem recebe o órgão e a vida funcional do rim doado.

"Hoje, se você tem 77 anos e há a oferta de um rim de 18 anos, vai recebê-lo", disse Richard N. Formica, médico especialista em transplantes da Universidade Yale e membro do conselho que redigiu a proposta.

"O problema é que você vai morrer com esse rim ainda funcionando, enquanto alguém de 30 anos poderia ter ganhado esse órgão e vivido para ver os netos se formando na faculdade."

CLASSIFICAÇÃO

Segundo o projeto em discussão, pacientes e rins receberiam uma classificação por idade, e os 20% dos órgãos e das pessoas mais jovens e saudáveis seriam separados em um grupo. Os melhores rins seriam, então, doados para quem tem maior expectativa de vida.

Os 80% restantes dos pacientes ficariam em outra lista de espera de doadores, e a rede nacional de doação de órgãos tentaria garantir que a diferença de idade entre doadores e receptores não fosse maior que 15 anos.

A proposta não resolve as disparidades geográficas que fazem com que pacientes em Nova York e Chicago esperem por muito mais tempo do que os da Flórida.

Essa distribuição local é resultado não só da preocupação com o fato de que órgãos vindos de locais distantes não cheguem a tempo para a cirurgia, mas também das disputas entre os centros de transplante.

Lainie Friedman Ross, diretora do McLean Center para Ética na Clínica Médica, da Universidade de Chicago, disse se opor à nova política porque "o maior problema é a geografia, e não estão fazendo nada para resolvê-lo".

Ross disse que também se preocupa porque toda política que favoreça pacientes mais jovens com rins de doadores mortos pode reduzir a doação ou redirecionar para os mais velhos rins de doadores vivos, que não são tratados na proposta.

Estabelecer cotas médicas é comum nos Estados Unidos, mas isso em geral é feito extraoficialmente.

LISTA DE ESPERA

Propostas para sistematizar cotas raramente são adotadas, e Formica e os outros envolvidos fizeram um enorme esforço para explicar que o projeto não traria desvantagens para a maioria dos pacientes nas listas de espera.

No entanto, Formica admitiu que os pacientes mais velhos teriam maiores dificuldades sob a nova política.

Ross foi mais direta: "Com essa proposta, quem tem 65 anos pode ter que desistir antes de entrar na lista".

Arthur Caplan, diretor do Centro de Bioética da Universidade da Pensilvânia, disse que a política proposta é sensata. "Se a escolha é salvar o avô ou a neta, acredito que você salva a neta primeiro", disse Caplan.

Endereço da página:
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/882082-nos-eua-nova-proposta-para-doacao-de-rim-favorece-jovens.shtml


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Sistema de transplantes cria problemas de distribuição
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/882083-sistema-de-transplantes-cria-problemas-de-distribuicao


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CORREIO DO ESTADO

Sistema de transplantes cria problemas de distribuição

FOLHA ONLINE 28/02/2011 13h19


"Eu só faço o transplante, quem define o critério é a sociedade", diz o nefrologista José Medina Pestana, chefe do setor de transplantes renais do Hospital do Rim da Unifesp.

Segundo ele, a discussão sobre a norma que deve prevalecer contrapõe duas visões filosóficas.

De um lado, uma visão utilitária, que vê no jovem a possibilidade de viver mais anos. De outro, uma visão humanista, que crê que os receptores mais velhos não podem ser preteridos depois de passarem anos contribuindo para a sociedade.

No Brasil, salvo quando o rim é de doador menor de 18 anos, a idade não define a preferência na fila de espera. Naquela hipótese, o rim do menor de idade é destinado a quem também tem menos de 18.

No caso dos rins, o que define a ordem do transplante é a compatibilidade; a ordem na fila é critério de desempate, o que permite a uma pessoa com mais de 60 receber o rim de um jovem e vice-versa.

Para o urologista William Nahas, chefe da unidade de transplante renal do Hospital das Clínicas, a proposta de adequar a doação à idade do receptor seria ideal, mas esbarra em problemas, como a necessidade de criar duas listas separadas.

"Isso poderia prejudicar a distribuição de rins. Teria que ser possível, mas sem quebrar o sistema."

Para Leonardo de Barros e Silva, coordenador do serviço de transplantes do Hospital das Clínicas, o problema é que, seja qual for o critério, há poucos rins para transplante.

"O ideal é que houvesse órgãos para todos, mas o número é pequeno. Alguém sempre sairá prejudicado. Não sei se esse seria o método mais justo."