segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Último Segundo - iG

Hepatite faz com que 40% das córneas doadas sejam descartadas


Doença é o principal motivo para tecidos não serem aproveitados em transplantes oculares
Fernanda Aranda, iG São Paulo 04/08/2010 12:51


Um relatório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), produzido pela primeira vez, mostra como o vácuo no diagnóstico das hepatites B e C pode impactar na realização de transplantes de córneas.
Segundo a Anvisa, durante o ano de 2009, os bancos de olhos espalhados pelo País captaram 21.012 córneas para serem utilizadas em transplantes, cirurgia que é capaz de fazer com que os pacientes com doenças oculares voltem a enxergar. Do total de tecidos, 10.635 ou 51% foram descartadas.
O principal motivo para a não utilização de quase metade das córneas, diz a Anvisa, foi a Hepatite B e a Hepatite C, problemas de saúde que impedem a utilização do material e responsável por 38,9% dos descartes. A má qualidade do tecido ocular doado também resultou na inutilização do tecido em 30% dos casos.

Queda de doadores
A Associação Brasileira de Transplante de órgãos (ABTO) mostra mesmo que o número de doadores de córneas está em queda no País, na contramão das estatísticas sobre doadores de órgãos.

Em 2009, foram 67 doadores de córneas por milhão de habitantes contra 72,4 em 2008. Já de órgãos, o número subiu de 20,2 para 22,2 doadores por milhão no mesmo período.
Fila de espera
Diminuir a incidência de Hepatite B pode repercutir na diminuição da fila de espera para o transplante de córneas. No início deste ano, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo anunciou que passou a exportar córneas para outros Estados do País, justamente para tentar equilibrar o fato da captação paulista exceder a necessidade de cirurgias e de, em outros locais, como Rio de Janeiro, faltar material para o transplante.
Dos 5.686 transplantes de córnea realizados no Estado de São Paulo em 2009, 24,7% eram de pessoas residentes em outros estados. Só o Rio de Janeiro respondeu por 10,5% das cirurgias.
Plano contra hepatite
Na semana passada, o Ministério da Saúde lançou o primeiro plano nacional contra a Hepatite B e Hepatite C. A iniciativa quer lutar contra a falta de diagnóstico na população. Muitos passam anos com o vírus, sem relacionar seus sintomas com a doença e distante do tratamento adequado para ela.
Os dados nacionais mapeados mostram que 96 mil casos novos foram diagnosticados de Hepatite B apenas no ano passado. Além do sexo sem proteção, o compartilhamento de seringas e alicates de unhas também podem servir como mecanismos de contaminação.
Pesquisa do Instituto Adolfo Lutz feita com manicures da capital paulista mostrou que 10% delas estavam infectadas.
Uma das estratégias para diminuir a contaminação da população é ampliar a faixa etária que pode receber a vacina gratuita contra a hepatite B nos postos de saúde. Atualmente, fazem parte do calendário gratuito de imunização a população entre 0 e 19 anos. Ano que vem, serão incluídos os entre 20 e 24 anos e em 2012 somadas as pessoas entre 25 e 29 anos.

Diario de Pernambuco

Saúde // 65 mil estão na fila do transplante


Placar apertado mas vitorioso para aqueles cuja única chance de cura está em um transplante.
Foram 809 "não" contra 963 "sim" vindos de famílias questionadas, no primeiro semestre deste ano, sobre a vontade de doar os órgãos de um parente que havia acabado de falecer.
O número poderia ser maior, reconhece Alberto Beltrame, secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde. "Embora a lei diga que a notificação da morte encefálica antes da parada cardíaca é obrigatória, só registramos 50% dos óbitos nessa condições no Brasil.
Ainda assim, estamos andando a passos largos nessa área", afirma. Falta de comissões dentro dos hospitais voltadas para a área, desinformação por parte da população e a pouca agilidade do sistema que interliga as instituições envolvidas são fatores que atrapalham o atendimento das cerca de 65 mil pessoas atualmente registradas no cadastro nacional à espera de um órgão.
A maior demanda é por rins e córneas - representando cerca de 85% dos órgãos e tecidos esperados.
Antonio Augusto dos Santos aguarda um rim há oito anos. Seus órgãos apresentaram problema quando ele passou por um distúrbio nervoso, ao ser assaltado, com a mulher e a filha, em casa. "Morávamos em Águas Lindas (GO), ficamos amarrados, foi terrível. Minha pressão subiu tanto que tive um infarto e meus rins pararam", conta. Quatro anos depois de fazer acompanhamento ambulatorial, teve que começar a hemodiálise. Por duas vezes, pensou que conseguiria o tranplante. Chegando ao hospital, foi informado de que não seria possível. "A gente fica tão esperançoso, é difícil voltar para a casa", diz ele.São muitos os problemas que inviabilizam cirurgias como a de Antonio, 46 anos.
Dos 3.421 potenciais doadores identificados nos seis primeiros meses de 2010, 15 não tiveram a doação efetivada por falta de infra-estrutura adequada e 657 por terem tido parada respiratória antes do processo ser efetivado, segundo dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO).
Presidente da entidade, Ben-Hur Ferraz Neto aponta a necessidade da implantação de uma efetiva política de doação de órgãos nos estados. "Especialmente no que diz respeito à formação de recursos humanos, de profissionais que saibam diagnosticar morte encefálica, de equipes que façam a abordagem da família e, claro, de campanhas esclarecedoras", opina o médico.