quinta-feira, 15 de abril de 2010

O Tempo online

Cidades

Decisão. Mãe teve a iniciativa assim que soube que o filho levou tiro na cabeça e não sobreviveria

Cabeleireira dá exemplo de solidariedade e doa órgãos
O TEMPO lança hoje, em parceria com o MG Transplantes, a campanha Viver Mais

Andréa Silva
Os projetos e sonhos do operador de máquinas Roger Nascimento Perdigão, 23, foram interrompidos. O rapaz, mais uma vítima da violência, foi baleado na cabeça anteontem e teve o diagnóstico de morte cerebral. Mesmo diante da dor, a mãe dele, a cabeleireira Valéria Correia da Silva, 46, tomou uma importante decisão. Ela vai doar todos os órgãos do filho. Perdigão está internado no Hospital João XXIII.

Essa é a segunda vez que Valéria, moradora do bairro Olaria, na região do Barreiro, em Belo Horizonte, perde um filho. Em 2008, o caçula, de 19 anos, foi assassinado. O crime, motivado por vingança, ocorreu dentro de um ônibus. Na época, a cabeleireira - que também presta serviço voluntário como comissária de menor em áreas de risco e nos fins de semana em uma creche e um asilo - não pôde optar pela doação.

Agora, com mais informações, ela tomou a decisão que, acredita, irá ajudá-la a diminuir o sofrimento de não ter mais a companhia do filho. "É uma forma de mantê-lo vivo", diz.
Iniciativa como a de Valéria da Silva é o que muitas famílias esperam para mudar o rumo da história de quem está na fila à espera de doação de órgãos.


Com o objetivo de chamar a atenção da sociedade sobre a importância do ato, o jornal O TEMPO e o MG Transplantes lançam, hoje à noite, a campanha "Viver mais". A solenidade terá a presença do ministro da Saúde José Gomes Temporão.

"Essa é uma iniciativa de extrema importância em Minas Gerais, porque existe em nosso Estado uma fila imensa de pessoas que dependem apenas de um doador. Os órgãos que são desperdiçados poderiam dar mais vida e alegria para essas pessoas e suas famílias", destaca Vittorio Medioli, fundador da Sempre Editora. A campanha constará de uma série de reportagens especiais, que serão publicadas semanalmente, a partir do próximo domingo, dia 18.

Ontem, ainda muito abalada com a notícia de que o filho não teria chances de sobreviver, a cabeleireira contou que não teve dúvidas sobre fazer a doação. O resultado dos exames que irão confirmar a transferência dos órgãos será liberado hoje. De acordo com a assessoria da Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), o corpo do jovem permanece ligado a um respirador.

"Sei que não terei meu filho de volta, mas com certeza os órgãos dele poderão dar uma vida melhor a outras pessoas. Isso alivia um pouco a minha dor", disse a mulher, que agora só terá a companhia da filha Paula, de 25 anos.

Roger Perdigão participava de uma festa de rua com os amigos quando foi baleado. O evento ocorreu perto de onde ele morava.

Minientrevista

"Doar é uma forma de mantê-lo vivo"
Valéria Correia da Silva Cabeleireira, 46, Mãe de Roger Perdigão

A cabeleireira Valéria Correia da Silva decidiu doar todos os órgãos do filho, logo depois de ter sido informada pelos médicos do HPS da possibilidade de morte encefálica. Na entrevista abaixo, ela conta por que tomou a decisão.

Onde você estava quando seu filho foi baleado? Estava prestando serviço em uma creche em Betim, onde sou voluntária. Me ligaram, dizendo que meu filho havia tomado um tiro na perna.

Quando você recebeu a informação de que ele havia sido atingido na cabeça?
Informei o nome do meu filho na recepção e a funcionária do HPS confirmou que ele estava na unidade, mas que ele havia tomado um tiro na cabeça.

Qual foi a sua reação?
Não conseguia acreditar naquilo. Mas quando vi o estado do meu filho, tive a certeza de que ele não iria sobreviver. Pela segunda vez, perco um filho para a violência.
Foi nesse momento que você decidiu pela doação dos órgãos?
Foi. Mesmo muito abalada, não quis esperar. Procurei a assistente social do hospital e comuniquei minha decisão de doar todos os órgãos.

A senhora acredita que a decisão vai diminuir seu sofrimento?
Muito. Me dá um conforto saber que as pessoas com órgãos doentes poderão ter uma vida melhor por meio do meu filho. É uma forma de mantê-lo vivo também.
A senhora deseja falar algo para outras mães? Quero dizer para elas educarem bem os filhos. Continuarem lutando para eles não se envolverem com a violência e não perderem suas vidas e nem tirar a de outros.

Transplantes
63.866 pessoas estão na fila de espera de transplante de órgão no país
2.077 pacientes em Minas aguardam na fila de transplante de órgão
2.057 cirurgias de transplantes foram realizadas no Estado 2009

Doador passa por exames

Assim como outros doadores de órgãos, Roger Perdigão foi submetido a exames que confirmaram a morte encefálica. O procedimento foi realizado por um o médico intensivista e um neurologista e comunicado à central de transplante.
Se houver condições favoráveis à doação, o que deve se confirmar hoje, outros exames serão feitos para liberação dos órgãos. (AS)

Publicado em: 13/04/2010


Desafios ainda são grandes
Redução da fila foi de apenas 1% no ano passado. 64 mil aguardam por órgão
14/04/2010 00h00
CRISTIANO MARTINS
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Doze anos se passaram desde que Darli Machado, 38, descobriu que tinha doença de Chagas. Durante o período, testemunhou o nascimento de seus dois filhos e conviveu diariamente com o drama de não saber se seu coração o manteria vivo o suficiente para vê-los crescer. Até que, no ano passado, a espera na fila do transplante chegou ao fim. Ele foi um dos 20.253 brasileiros que receberam novos órgãos e tecidos em 2009. "Agora é só felicidade. É outra vida", comemora.

Com o aumento de 5% no número de transplantes realizados em relação a 2008, o Brasil alcançou o melhor resultado de sua história no setor. A taxa de doadores efetivos - cujos órgãos captados são, de fato, transplantados - subiu de 7,2 para 8,7 por milhão da população (pmp), superando a meta da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), que era 8,5. "Se considerarmos que os transplantes são o processo mais complexo do sistema, o aumento é muito expressivo", avalia Rosana Nothen, coordenadora do Sistema Nacional de Transplantes.

Mas, apesar dos avanços, ainda foram poucos os que puderam comemorar. 63.866 pessoas tiveram que adiar para 2010 o sonho de deixar as listas de espera, que apresentaram redução de apenas 1%. E, infelizmente, para muitos deles esse momento pode não chegar: dois a cada três pacientes na fila por um fígado, por exemplo, morrem antes de conseguir o transplante.

No ano passado, 49,2% das equipes cadastradas no país não realizaram nenhuma operação. A falta de conscientização e a baixa identificação de potenciais doadores continuam sendo os principais desafios. Cerca de 21% das captações não foram concretizadas devido à recusa familiar, e a efetivação das doações foi de 25,5%, taxa ainda distante da meta da ABTO, de 40%.

As discrepâncias regionais representam outro grande problema. Santa Catarina e São Paulo foram os únicos Estados a alcançar níveis próximos aos de países desenvolvidos - 19,8 e 16,9 doadores pmp, respectivamente. Enquanto isso, em toda a região Norte, apenas Acre e Pará efetivaram doações com falecidos, e a taxa média de doadores pmp foi de 1%.

"Somos o segundo país em número absoluto de transplantes, mas, no relativo, estamos atrasados. Há possibilidade de melhorias, mas existem problemas sérios para solucionar", alerta Ben-Hur Ferraz Neto, presidente da ABTO.




Um comentário:

  1. Olá bloqueiro,

    Divulgue o link: http://bit.ly/cHLx34 sobre doação de órgãos, ajude a conscientizar as pessoas e salve vidas.
    O principal passo para se tornar um doador de órgãos é deixar claro para a família o seu desejo

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