terça-feira, 25 de setembro de 2012

ATX-BA - Informando - Ig - Minha Saúde

63% das famílias recusam doar órgãos

Associação de transplantes lança campanha para diminuir as seis recusas diárias de doação registradas no Brasil

Fernanda Aranda , iG São Paulo |


Todos os dias, seis famílias dizem “não” para a doação de órgãos. Os dados são da Associação Nacional de Transplantes (ABTO) que lança hoje uma campanha para reverter as recusas que somam 63% entre os potenciais doadores do Brasil.
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Segundo os dados divulgados, entre janeiro e junho deste ano, os hospitais de todo País identificaram 4.073 pacientes com diagnóstico de morte cerebral, que poderiam doar coração , pulmão , rim, fígado e pâncreas para salvar a vida das mais de 23.863 pessoas que estão na fila de espera. Deste total, somente 1.217 se tornaram doadores efetivos.

Para ser um doador de órgãos hoje, basta manifestar esse desejo aos familiares, sem a necessidade de um registro formal no RG ou CNH.

Segundo o mapeamento feito pelo Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde os principais motivos de morte dos doadores são as causas externas (acidentes de carro, tiros, quedas) e os acidentes vasculares cerebrais (AVC) de pessoas jovens, com menos de 40 anos. Na análise dos especialistas, o fato de serem mortes inesperadas surpreende a família, pois não há tempo para refletir sobre o tema e optar pela decisão de doar os órgãos de um ente querido.
Além disso, o conceito de morte cerebral não é totalmente compreendido. O coração continua batendo, mas não há chance da pessoa recuperar as funções cognitivas, a fala, a respiração e a interação com meio. Em poucas horas, os batimentos cardíacos da vítima param, mas a espera inviabiliza a retirada do coração ou de qualquer outro órgão para o transplante em outro paciente.

Foram 1.073 recusas,  uma média de seis por dia. Segundo o presidente da ABTO, José Medina Pestana, a recusa da família ainda é a principal barreira para a doação: Para combater esse cenário foi lançada a campanha "Doar não é um tabu. Conte para sua família. Conte com sua família".

De torneiro mecânico a recordista em transplantes

José Medina passou por três profissões até chegar à medicina e colocou o Brasil entre os campeões mundiais de doação de órgãos 

Fernanda Aranda, iG São Paulo |



Edu Cesar/Fotoarena
José Osmar Medina Pestana começou a trabalhar aos 8 anos, depois virou torneiro mecânico e, por fim, o médico recordista em transplante
José Osmar Medina Pestana venceu a infância pobre para deixar suas digitais na história dos transplantes brasileiros.
Entre uma ponta e outra desta trajetória, passaram três instrumentos de trabalho por suas mãos: tijolos, peças industriais e rins.
Isso porque, a transformação do menino Zé Osmar em Doutor Medina foi formada pelas profissões ajudante de pedreiro, torneiro mecânico e, por fim, nefrologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Ele acaba de assumir a presidência da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) e, no primeiro ato como presidente, no início de fevereiro, divulgou um novo recorde de cirurgias do tipo no cenário nacional.

Mais uma vez, os transplantes renais foram os mais numerosos, a maior parte deles feita no Hospital do Rim da Unifesp, unidade idealizada e administrada por Medina. O médico acumula 10 mil pacientes transplantados, quase a população total de Ipaussu, cidade do interior paulista onde ele nasceu (são 13 mil habitantes segundo o Censo 2010) e escolheu que “queria cuidar de gente” quando fosse gente grande.
O sonho da carreira, inclusive, foi construído simultaneamente à construção (literal) de casas. Ajudar o pai pedreiro foi seu primeiro ofício, assumido aos 8 anos, para melhorar a renda da família e, de quebra, alimentar a possibilidade de conseguir um diploma na área da saúde.

Metas
Minha mãe era costureira, meu pai pedreiro e tínhamos uma vida simples, mas eu não sentia tantas privações. Só não gostava de ter de abdicar das minhas férias para ajudar papai com o cimento e a construção. Mas sabia que isso era necessário”, lembra Medina. 
Mais velho de cinco irmãos, craque na bola de gude e no futebol “pé na terra”, ele foi o primeiro a ser incentivado pelos pais a estudar e fazer um curso técnico. “Minha mãe, apesar de pouco estudo, era muito sábia. Ela logo me orientou que esta era a melhor forma de, ao mesmo tempo, ter acesso à educação e a um trabalho.”
Por isso, aos 15 anos de idade, o pai dos Medina Pestana perdeu seu melhor ajudante. Com diploma de torneiro mecânico, ele passou a trabalhar em fábricas, com peças automotivas, e fazer seu pé de meia.
Nesta época, já gostava de passear na Santa Casa de Ipaussu e observar o seu primeiro herói da infância. “Doutor Rafael tinha um talento para tratar nosso povo. Não eram só cuidados médicos. Eram ouvidos atentos para as reclamações de toda sorte, retribuídas com conselhos para todas as áreas da vida”, lembra.
Aquele médico que circulava por todas as casas, comércios, praças e bailes da cidade implantou na cabeça de Zé Osmar uma meta audaciosa. Antes de completar 20 anos, ele deixaria Ipaussu, trabalharia um ano na capital paulista, juntaria dinheiro. “Precisava fazer um ano de cursinho e então entraria na faculdade de medicina”, finalizava com esta frase os seus pensamentos.
Rotinas
Aos 19 de idade, o jovem fez as malas, deu um beijo na testa da mãe e mudou para a cidade grande. Trabalhou na Volks (com os seus conhecimentos de torneiro mecânico) e como auxiliar de escritório. Doze meses depois, dormindo em um quartinho emprestado na casa do tio no ABC Paulista, ele fez a matrícula em um curso preparatório para o vestibular. E se preparou para mais 12 meses de maratona.
Edu Cesar/Fotoarena
Ele veio para São Paulo, deixou a família em Ipaussu, fez cursinho por um ano e entrou na Unifesp
A rotina de 12 horas de trabalho foi substituída por 12 horas de estudo. Em dezembro de 1974 encontrou seu nome entre os aprovados para ingressar na Escola Paulista de Medicina (Unifesp), instituição pública, um alívio para o “bolso apertado” do estudante.
“Estava na hora de voltar a trabalhar. Não precisaria pagar os estudos, mas ainda tinha que me sustentar em São Paulo.”
O novo emprego foi no laboratório da própria Unifesp, catalogando os pacientes que chegavam à emergência. O horário, das 16h às 23h permitia dedicação aos estudos médicos entre 7h e 15h. E ainda servia de aperitivo das muitas especialidades médicas que José Osmar Medina poderia escolher.
Rins
Ele flertou com a ortopedia, mas por sugestão de um professor escolheu os rins como foco de atuação. Já tinha deixado a casa do tio, agora morava em uma república com outros seis estudantes. Por influência dos colegas, adotou definitivamente o nome Medina como sua identidade. A nefrologia, ele definiu como seu destino.
Zé Osmar ficava para trás, mas o Medina também gostava de metas audaciosas. Em 1987, já formado, casado (com a primeira namorada de Iapussu) e decidido, ele foi para o exterior fazer especialização em transplante. Quando voltou ao Brasil decidiu organizar uma unidade com fluxo para cirurgia de transplante renal, ainda inexistente em SP.
Não tínhamos integração, procedimento, profissionais especializados. Em equipe, fomos formando tudo isso”, lembra. Em menos de uma década, aquele embrião do Hospital do Rim virou uma potência mundial. Os 15 transplantes renais anuais viraram 500 cirurgias por ano em 2004, um recorde no mundo, que rendeu novas chances de vida para milhares de pacientes e homenagens em vários idiomas ao doutor Medina. Hoje já são quase 700 transplantes a cada 12 meses só nesta unidade.
Dez mil
O auxiliar de pedreiro, torneiro mecânico e médico que moram em Medina trabalham em uma espécie de sintonia na hora dos transplantes. É preciso arquitetar a cirurgia, parte por parte, como a construção de um um novo organismo; depois encaixar todas as peças precisamente em um tipo de esquema industrial. Para em sequência, cuidar a vida toda daquele ser humano que ganhou um novo órgão.
“É a oportunidade que nós médicos temos de unir os dois extremos da medicina. Desde os cuidados mais simples, como medir a pressão, colocar a mão no paciente, até a mais alta complexidade cirúrgica”, explica. “É mágico”, define Medina que, para homenagear o seu herói Daniel, duas vezes por ano volta a Ipaussu e trabalha por duas semanas, de forma voluntária, na Santa Casa. Ouvindo queixas de toda sorte e dando conselhos sobre tudo. 
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INFOGRÁFICO: Veja o panorama de transplante no País e quanto tempo é necessário para a retirada dos órgãos serem efetivas
O envelhecimento da idade do doador é uma mistura de aumento da expectativa de vida do brasileiro atrelado aos avanços das tecnologias da medicina, que permitem agora conservar por mais tempo o coração, fígado, rim, pulmão ou pâncreas de uma pessoa mais velha, além de terem disponíveis técnicas que diagnosticam com mais eficiência a morte encefálica (situação exigida para a doação de órgãos).
Além do perfil do doador brasileiro, este infográfico especial do iG ainda mostra a fila de espera para cada órgão, os Estados que mais realizam as operações e a evolução do número de cirurgias nos últimos dez anos. Um outro diferencial é que o gráfico mostra em que situações você pode precisar de um transplante. 

 http://saude.ig.com.br/minhasaude/2012-09-25/63-das-familias-recusam-doar-orgaos.html

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