A hepatite C é a que tem maior prevalência em todo o mundo. Estima-se, atualmente, que cerca de 3% da população mundial seja portadora de infecção crônica associada ao vírus, o que corresponde a aproximadamente 170 milhões de pessoas. No Brasil, de acordo com dados parciais do Inquérito Nacional de Hepatites Virais, em média 1 a 2% da população deve possuir a doença. O que mais chama a atenção, porém, é a maior vulnerabilidade dos pacientes renais crônicos que fazem hemodiálise. Eles possuem de 7 a 30 vezes mais chances de contrair a doença em relação à população geral. No Pará, segundo dados da Sespa, 109 das 1.547 pessoas que faziam hemodiálise em 2009 eram portadoras crônicas da infecção.
Pouca gente sabe, mas, de acordo com o último levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia, 8% das pessoas que necessitam de hemodiálise possuem o vírus HCV, causador da hepatite C. Isso porque, segundo a médica Dauana Bastos, mestre em hepatologia, o vírus é transmitido principalmente por sangue e fluidos contaminados e os renais crônicos têm contato diário com sangue nas sessões de hemodiálise, onde as partículas do vírus podem ficar retidas no equipamento de diálise, assim como em superfícies expostas ao vírus.
“Existem poucos estudos na área sobre o assunto, mas os resultados nacionais apontam uma distribuição desigual no território brasileiro, com taxas que chegam a atingir 90% em alguns centros de hemodiálise”, explica a médica.
Em sua tese de mestrado, apresentada recentemente em São Paulo, ela alerta que o exame utilizado atualmente para o diagnóstico não é o mais eficaz e que, por isso, muitos doentes deixam de ter o vírus identificado e acabam passando também para outras pessoas durante a hemodiálise.
“A transmissão ocorre através do uso de máquina e equipamentos de diálise contaminados com o vírus e também pelo contato ambiental, ou seja, através de mãos ou objetos de pacientes portadores de hepatite C que entrem em contato com pacientes renais crônicos sem o vírus sem tomar medidas de prevenção, como o uso de luvas ou a lavagem periódica das mãos”. O que mais assusta, ainda, é que, das pessoas que entram em contato com o vírus, cerca de 80% acabam cronificando”, afirma Dauana Bastos.
COMO DETECTAR
Autora de capítulos publicados no livro Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar – Hepatologia, da Universidade Federal de São Paulo, a especialista explica que existem diferentes tipos de exames para detectar a presença do vírus, e que um é mais adequado do que o outro para os pacientes de hemodiálise.
“O problema é que esse exame é mais caro e indisponível no Brasil e, por isso, geralmente não é utilizado na rede pública do país. Para diminuir esse quadro, a melhor maneira seria dar mais atenção ao diagnóstico da doença, com implementação de testes rotineiros”, diz. (Diário do Pará)
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