DEMORA QUE ANGUSTIA
Escassez de leitos amplia o drama da leucemia
Escassez de leitos amplia o drama da leucemia
A falta de leitos está atrasando a realização de transplantes de medula óssea no Brasil e prejudicando a saúde de pacientes que têm a sorte de encontrar um doador compatível. No Rio Grande do Sul, a espera por uma vaga para a realização do procedimento costuma se prolongar de dois a quatro meses – o que é muito tempo para pacientes com leucemia por comprometer as chances já modestas de cura (ao redor de 50% dos casos).Hoje, esse é um dos principais obstáculos enfrentados por vítimas da doença, como o filho do deputado federal gaúcho Beto Albuquerque, Pietro, morto ontem aos 19 anos, e a jogadora de basquete Michelle Splitter, de mesma idade, que morreu na noite de segunda-feira. Ambos não resistiram à leucemia mesmo depois de terem se submetido a transplantes de células-tronco, que costumam ser chamadas genérica e popularmente de medula óssea, embora possam ser encontradas, também, em cordões umbilicais e no sangue. Pietro, porém, teve de viajar a São Paulo, porque não havia vaga no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
Entenda a leucemia e saiba como doar medula óssea
A dificuldade em conseguir lugar em um hospital vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS) faz com que, em média, 200 pacientes em todo o país e 15 no Rio Grande do Sul mantenham-se na espera pelo tratamento, mesmo já tendo encontrado um doador compatível.Isso aumenta muito a angústia da família. Primeiro, é a luta para encontrar um doador a tempo. Depois, ainda tem de esperar por um leito – lamenta a presidente da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), Merula Steagall.O problema não é só o aumento no grau de ansiedade de vítimas e parentes. Enquanto aguardam, a condição de saúde tende a se agravar. Isso piora a situação do doente. O ideal seria que o transplante fosse feito assim que possível – garante a hematologista Lucia Silla, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do serviço de transplante de medula óssea do Clínicas.A chefe do serviço do Clínicas, Liane Daudt, afirma que a unidade conta com seis leitos para transplante de medula em que o doador é uma outra pessoa (em alguns casos, o próprio paciente pode retirar uma porção de sua medula, fazer um tratamento e reintroduzi-la no organismo). Dessas vagas, apenas três se destinam a doações de não-aparentados. O ideal é que tivéssemos pelo menos o dobro disso – observa.Isso faz com que a falta de estrutura nos hospitais seja o grande gargalo para as vítimas da leucemia no país. Até então, o Brasil concentrava esforços na ampliação do registro de possíveis doadores. Nos últimos anos, mediante uma eficaz mobilização do Instituto Nacional de Câncer (Inca), essa lista explodiu. Em 2007, o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) contava 500 mil voluntários dispostos a salvar a vida de um desconhecido. No mês passado, o contingente de doadores já atingia 960 mil e deverá alcançar a marca histórica de um milhão de cadastros nos próximos dois meses, mantido o ritmo atual. O problema é que o número de transplantes não acompanha esse crescimento vertiginoso – lamenta Merula.Os dados do Inca confirmam. Em 2007, foram realizados 135 procedimentos. No ano passado, apesar de um crescimento de 88% na lista do Redome, a realização de transplantes entre não-aparentados se manteve estagnada – 133 doentes foram beneficiados.Um dos grandes motivos disso é a falta de leitos. Dados do Ministério da Saúde de junho do ano passado apontam a existência de 30 leitos em 14 instituições destinadas especificamente à realização de transplantes de medula entre pessoas que não têm relação de parentesco no Brasil – o último recurso para quem não encontra cura nos tratamentos convencionais ou um doador entre a família.
MARCELO GONZATTO E MAURO GRAEFF JÚNIOR
A dificuldade em conseguir lugar em um hospital vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS) faz com que, em média, 200 pacientes em todo o país e 15 no Rio Grande do Sul mantenham-se na espera pelo tratamento, mesmo já tendo encontrado um doador compatível.Isso aumenta muito a angústia da família. Primeiro, é a luta para encontrar um doador a tempo. Depois, ainda tem de esperar por um leito – lamenta a presidente da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), Merula Steagall.O problema não é só o aumento no grau de ansiedade de vítimas e parentes. Enquanto aguardam, a condição de saúde tende a se agravar. Isso piora a situação do doente. O ideal seria que o transplante fosse feito assim que possível – garante a hematologista Lucia Silla, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do serviço de transplante de medula óssea do Clínicas.A chefe do serviço do Clínicas, Liane Daudt, afirma que a unidade conta com seis leitos para transplante de medula em que o doador é uma outra pessoa (em alguns casos, o próprio paciente pode retirar uma porção de sua medula, fazer um tratamento e reintroduzi-la no organismo). Dessas vagas, apenas três se destinam a doações de não-aparentados. O ideal é que tivéssemos pelo menos o dobro disso – observa.Isso faz com que a falta de estrutura nos hospitais seja o grande gargalo para as vítimas da leucemia no país. Até então, o Brasil concentrava esforços na ampliação do registro de possíveis doadores. Nos últimos anos, mediante uma eficaz mobilização do Instituto Nacional de Câncer (Inca), essa lista explodiu. Em 2007, o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) contava 500 mil voluntários dispostos a salvar a vida de um desconhecido. No mês passado, o contingente de doadores já atingia 960 mil e deverá alcançar a marca histórica de um milhão de cadastros nos próximos dois meses, mantido o ritmo atual. O problema é que o número de transplantes não acompanha esse crescimento vertiginoso – lamenta Merula.Os dados do Inca confirmam. Em 2007, foram realizados 135 procedimentos. No ano passado, apesar de um crescimento de 88% na lista do Redome, a realização de transplantes entre não-aparentados se manteve estagnada – 133 doentes foram beneficiados.Um dos grandes motivos disso é a falta de leitos. Dados do Ministério da Saúde de junho do ano passado apontam a existência de 30 leitos em 14 instituições destinadas especificamente à realização de transplantes de medula entre pessoas que não têm relação de parentesco no Brasil – o último recurso para quem não encontra cura nos tratamentos convencionais ou um doador entre a família.
MARCELO GONZATTO E MAURO GRAEFF JÚNIOR
Por que é um procedimento complexo
A pouca oferta de leitos para transplante entre pessoas que não são parentes pode ser explicada pela necessidade de preparo das equipes e de infraestrutura:
> Ao ser internado, o paciente que vai receber as células é submetido a altas doses de quimio ou radioterapia para destruir a medula doente.
> O leito em que ele é instalado deve se localizar em uma ala própria, com isolamento do ambiente. No Clínicas, por exemplo, todo o ar em circulação entra por um filtro e sai por outro, a fim de manter o local livre de contaminações.
> A equipe médica e de enfermagem que vai fazer o transplante precisa receber treinamento especial para lidar com a doação de não-aparentados, uma vez que as ameaças de rejeição e complicações são muito maiores, devido às diferenças genéticas entre doador e receptor.
> O transplante é feito na forma de uma infusão que dura aproximadamente duas horas.
> Devidos aos riscos, o paciente costuma ficar internado de 40 a 60 dias, e por pelo menos três meses deve permanecer próximo ao hospital.
> O risco do transplante – de rejeição ou recaída da leucemia – se estende por cerca de dois anos.
> Isso faz com que a chance de sucesso fique em aproximadamente 50%.
marcelo.gonzatto@zerohora.com.br mauro.graeff@zerohora.com.br
A pouca oferta de leitos para transplante entre pessoas que não são parentes pode ser explicada pela necessidade de preparo das equipes e de infraestrutura:
> Ao ser internado, o paciente que vai receber as células é submetido a altas doses de quimio ou radioterapia para destruir a medula doente.
> O leito em que ele é instalado deve se localizar em uma ala própria, com isolamento do ambiente. No Clínicas, por exemplo, todo o ar em circulação entra por um filtro e sai por outro, a fim de manter o local livre de contaminações.
> A equipe médica e de enfermagem que vai fazer o transplante precisa receber treinamento especial para lidar com a doação de não-aparentados, uma vez que as ameaças de rejeição e complicações são muito maiores, devido às diferenças genéticas entre doador e receptor.
> O transplante é feito na forma de uma infusão que dura aproximadamente duas horas.
> Devidos aos riscos, o paciente costuma ficar internado de 40 a 60 dias, e por pelo menos três meses deve permanecer próximo ao hospital.
> O risco do transplante – de rejeição ou recaída da leucemia – se estende por cerca de dois anos.
> Isso faz com que a chance de sucesso fique em aproximadamente 50%.
marcelo.gonzatto@zerohora.com.br mauro.graeff@zerohora.com.br
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