domingo, 26 de junho de 2011

23/06/2011 20:49


Drauzio Varella e o vírus sem charme

Na nova série do "Fantástico", ele discute por que as hepatites não comovem tanto quanto a aids.

  Reprodução
CRISTIANE SEGATTO

CRISTIANE SEGATTO

Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 15 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismo. Para falar com ela, o e-mail de contato é cristianes@edglobo.com.br

Existe um vírus que é cem vezes mais contagioso que o HIV, mas tem um poder de comoção infinitamente menor. É o vírus da hepatite B. Segundo as estimativas mais conservadoras, 1,5 milhão de brasileiros convive com ele. A maioria sequer desconfia. Só o descobre quando o fígado está destruído. Outras formas de hepatite (provocadas pelos vírus A, C e D) também causam enorme sofrimento. Por que não merecem a mesma atenção dedicada à aids?

Drauzio Varella decidiu investigar. As hepatites são o tema do novo quadro que ele apresenta no Fantástico. A série de quatro capítulos estréia no dia 17 de julho. Para entender as condições que contribuem para a transmissão do vírus, Drauzio esteve numa aldeia Yawanawá, no Acre. Também visitou salões de beleza de São Paulo e viu que as manicures trabalham em condições inadequadas mesmo nos endereços mais chiques. Por fim, foi a Salvador entrevistar jogadores de futebol profissionais que contraíram o vírus nos anos 70. Conversei com Drauzio nesta semana para antecipar o conteúdo da série aos leitores desta coluna.

ÉPOCA – Por que escolheu esse tema?
Drauzio Varella - As hepatites são doenças negligenciadas. Ninguém ouve falar sobre isso. Parece que não têm charme. Não sabemos quantas pessoas têm o vírus. Os dados do Ministério da Saúde não têm o menor valor porque só lidam com os casos notificados.

ÉPOCA – Há várias formas de hepatite. Vamos começar pelo vírus A ...

Drauzio - A hepatite A é a da água suja. É provocada pela falta de saneamento básico. Em geral é doença de curso benigno. Mas ela se torna potencialmente mais grave quando a pessoa a adquire na gravidez ou numa faixa etária mais avançada. Aí ela pode evoluir para hepatite fulminante. Ocorre uma necrose maciça das células hepáticas. A mortalidade é muito alta. É uma das causas de transplante de emergência.

ÉPOCA – Se ela é provocada por falta de saneamento básico, por que a classe média também é afetada?
Drauzio - É uma doença curiosa. Quem mora em más condições sanitárias a adquire logo na infância e costuma ter uma hepatite benigna. Mas quem vive em boas condições sanitárias não a adquire na infância e não fica imune a ela.Vai adquiri-la mais tarde, com 50 anos de idade, quando viaja para algum lugar e entra em contato com o vírus. Ou seja: a classe média tem a doença mais grave porque contrai o vírus numa idade mais avançada.

ÉPOCA – O governo não deveria vacinar a população contra a hepatite A?
Drauzio - Os hepatologistas acham que sim. Eles dizem que a doença só é benigna para quem pega na infância. Para quem pega mais tarde a doença pode ser mais grave. A posição do Ministério da Saúde é não vacinar. É preciso analisar o custo e o benefício da adoção dessa medida, mas esses estudos ainda não foram feitos.

ÉPOCA – E a hepatite B?
Drauzio - É totalmente diferente. É transmitida sexualmente e pelo sangue. E também passa da mãe para o feto. Existe vacina, mas há um complicador. É preciso tomar três doses. Uma hoje, outra daqui a trinta dias e outra depois de seis meses. Isso complica bastante. As pessoas tomam uma dose, depois não tomam as outras e não ficam protegidas. Hoje as crianças nascem e já são vacinadas. O SUS oferece, mas faz pouco tempo que entrou no calendário.

ÉPOCA – O que acontece com os adultos?
Drauzio - A maioria não foi vacinada. A vacina existe há vinte e poucos anos. Pelas estimativas mais conservadoras, há no Brasil 1,5 milhão de portadores crônicos do vírus. Ele é 100 vezes mais contagioso que o vírus da aids. Se analisarmos um grupo de pessoas que sofreu acidentes com seringas e agulhas, vemos que três ou quatro a cada mil pegam o vírus da aids. No caso da hepatite, há um caso de infecção a cada quatro ou cinco acidentados. Um índice de 20% de infecção é muito alto.

ÉPOCA – Nem todos os infectados pelo vírus B vão ter a doença...
Drauzio - Cerca de 95% das pessoas que entram em contato com o vírus o eliminam naturalmente. Os 5% se tornam portadores crônicos. O problema é que a doença é absolutamente assintomática por 20 ou 30 anos. De repente, a pessoa descobre a doença. A barriga incha porque acumula líquido ou a pessoa fica amarela. Quando percebe já está com cirrose ou câncer de fígado. O vírus provoca câncer. Do mesmo jeito que o cigarro provoca câncer, o vírus da hepatite também tem essa relação com o câncer de fígado.

ÉPOCA – Como é o tratamento?
Drauzio - É complicado. Quando a doença é descoberta na fase de câncer, o que resta é o transplante de fígado. A principal causa de transplante de fígado no Brasil é a hepatite B. Se a doença é descoberta mais cedo, há o tratamento com interferon. É caro e demorado. No caso da hepatite C também se usa o interferon mais outros antivirais. É uma carga enorme para o sistema de saúde.

ÉPOCA – O que você descobriu nos salões de beleza?
Drauzio - A prevalência de hepatite é muito alta no grupo das manicures. Esse é um assunto que ninguém comenta. Elas usam equipamento que volta e meia provoca ferimentos. Se a pontinha do alicate entrar em contato com uma gotícula de sangue infectado, pronto. O vírus está ali. Temos manicures espalhadas pelo Brasil inteiro. Imagine o tamanho desse problema. Quantas delas têm autoclaves para esterilizar o material? Não adianta apenas fervê-lo. Os métodos recomendados são a autoclave ou a estufa. Na estufa, é preciso manter o material a 170 graus por quase uma hora. Quem fiscaliza? Tem todo um procedimento. A manicure precisa lavar as mãos antes e depois de atender cada cliente, colocar luvas, lavar o material depois de usá-lo, colocar no envelope e só depois colocar na autoclave.

ÉPOCA – O ideal, então, é que cada cliente leve o seu próprio kit de manicure?
Drauzio - Eu achava que sim, mas conversando com as manicures vi que a coisa é mais complicada. Elas dizem que isso não funciona. Dizem que o equipamento das clientes é ruim, que não é afiado. Não passa mais o afiador na porta de casa. Onde as mulheres vão afiá-lo? Parece que isso não dá certo.

ÉPOCA – O risco de infecção nos salões de beleza é mais alto do que se imagina?
Drauzio - A pesquisadora Andréia Schunck, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, fez um estudo impressionante. Ela visitou 100 salões de beleza -- dos mais chiques aos mais simples. Passava pelo menos seis horas em cada salão. Encontrou procedimentos inadequados em TODOS os salões. As manicures não lavavam as mãos, não lavavam os equipamentos e já os colocavam direto na autoclave. As manicures usavam nelas mesmas o material que usavam nas clientes. Andréia encontrou 10% de infectadas. O vírus B apareceu em 8% da amostra e o vírus C em 2%.

ÉPOCA – As manicures não podem ser vacinadas de graça, pelo SUS?
Drauzio - Sim. Elas têm o direito de tomar a vacina pelo SUS. Mas só 15% sabiam que tinham esse direito. É uma desinformação geral. Há uma lista grande de grupos que têm direito de tomar a vacina de graça: quem tem aids, médicos, enfermeiros, manicures, técnicos de laboratório, carcereiros etc. Muita gente não sabe.

ÉPOCA – E as pessoas que não estão na lista? Vale a pena comprar a vacina?
Drauzio - É altamente recomendável que comprem a vacina. A mensagem que a gente quer passar com essa série é a seguinte: tem que vacinar contra a hepatite B. Existe vacina. Quem pode comprar a vacina e não está na lista do governo, deve comprá-la. A imunização dura a vida toda se a pessoa tomar as três doses. As manicures, por exemplo, não podem ficar sem a vacina. Outra realidade chocante é a dos índios da Amazônia. Tem que vacinar. Em algumas tribos, a prevalência de hepatite B é de 20%.

ÉPOCA – O que você viu na Amazônia?
Drauzio - Gravamos no Acre, numa aldeia Yawanawá, perto de Cruzeiro do Sul. Fica quase no Peru. Naquela comunidade, 10% dos indígenas têm o vírus. A quantidade de crianças infectadas é enorme. Pegam na infância e não é por transmissão materna. É por manipulação. Como tem muito mosquito ali, as crianças são cheias de feridas. Dormem três na mesma rede. Uma encosta a ferida na ferida da outra. Coçam as feridas com os mesmos pauzinhos. A transmissão é absurda. Fiquei chocado de ver essas crianças. Não se vê uma condição de saúde tão ruim em favela nenhuma de cidade grande. As crianças são cheias de feridas na cabeça. As mães colocam um gorrinho de lã na cabeça delas naquele calor de 40 graus. Tirei uns dez gorros.

ÉPOCA – Ali simplesmente não existe atenção à saúde indígena?
Drauzio - Tudo é muito longe. De vez em quando passa alguém. Ali o que tinha que fazer era vacinar a população inteira. Vai custar caro? E daí? Vai de avião, vai com o Exército. Aí é que entra a dificuldade de serem três doses. Tem que ir três vezes; as populações às vezes mudam de lugar. São vários complicadores. O problema ali não é o custo da vacina. É o custo da operação. Mas qual é a solução? Vai deixar espalhar isso? Depois como trata? São no mínimo 6 meses tomando remédio. Às vezes o tratamento dura anos. Levam os doentes para uma casa do índio em Cruzeiro do Sul. Mas vão deixar uma criança lá sozinha tomando interferon durante um ano?

ÉPOCA – As crianças morrem cedo?
Drauzio - Aquelas pessoas vivem numa situação social horrível. Isso é geral. Na Amazônia ninguém sabe por que existe hepatite D (hepatite Delta). É outro vírus. É um vírus defeituoso, que não tem a capacidade de se multiplicar sozinho. Se a pessoa pegar só ele, não acontece nada. Se tiver o vírus B e pegar o Delta, a hepatite fica muito mais agressiva. Essa é a situação dos meninos que eu vi. Meninos de 12, 13 anos em fase final de evolução. Com cirrose, baço enorme. Morrem com 14, 15 anos. Com o vírus Delta, as crianças morrem muito mais rápido.

ÉPOCA – O tratamento de que elas precisam é o mesmo usado contra o vírus B?
Drauzio - Sim. Matando o vírus B, o Delta não tem como sobreviver. Essa é a dimensão do problema. É caro tratar 1,5 milhão de pessoas? É. Mas vamos aceitar chegar à mesma situação da China? A China tinha 10% da população infectada pelo vírus B. Agora que eles começaram a vacinar, a prevalência caiu para 8,5%. Isso vai dar mais ou menos 100 milhões de pessoas infectadas.

ÉPOCA – Impossível ter transplante para todo mundo...
Drauzio - Os que podem pagar fazem o transplante. Os que não podem vão se tratar com a tradicional medicina chinesa. Não tem orgãos para todo mundo. Dez milhões chegam à fase final da doença e precisam de transplante. Quem vai fazer 10 milhões de transplantes? Esquece. Deixam morrer.

ÉPOCA – E o vírus C?
Drauzio - É um vírus muito maluco. Quando fizemos o primeiro trabalho no Carandiru em 1989, testei 1.492 presos para o vírus da aids. Encontramos o HIV em 17,3% dos presos. Um ano depois, o infectologista Ésper Kallas testou o mesmo sangue que estava estocado e encontrou o vírus da hepatite C em 60% das amostras. Isso foi numa época em que a moda era droga na veia. O vírus C é transmitido com muita facilidade. Enquanto no vírus B, apenas 5% dos infectados se tornam portadores crônicos, na hepatite C são 80%. O vírus da hepatite C não é oncogênico. Ele em si não induz o câncer de fígado, mas ele provoca cirrose. E a cirrose aumenta a incidência de câncer de fígado.

ÉPOCA – Quantos portadores de hepatite há, afinal, no Brasil? Cada um diz um número diferente...
Drauzio - A verdade é que não se sabe. Se formos muito conservadores e somarmos as hepatites B e C, chegamos a 2 milhões de pessoas. Temos 600 mil infectados com o vírus da aids. O tratamento é muito mais simples que o da hepatite. A diferença é que a aids atingiu primeiro as pessoas que tinham acesso aos meios de comunicação. Desde o início da epidemia, os meios de comunicação se interessaram muito pela aids. Foi sempre assim, desde que era chamada de peste gay. A aids envolve uma discussão moral. Para a imprensa, é uma doença que tem mais interesse jornalístico. Para a hepatite ninguém liga. As hepatites não têm esse charme.

ÉPOCA – O que você descobriu ao entrevistar jogadores de futebol?
Drauzio - Gravamos em Salvador com um grupo de jogadores profissionais dos anos 70. Naquela época, se acreditava que era preciso dar vitaminas para os jogadores. Davam glucoenergan na veia. No intervalo dos jogos, chegavam no vestiário com aquelas caixinhas com seringa de vidro e aplicavam tiaminose e complexo B na molecada toda. Uma quantidade absurda de hepatite B e C foi transmitida dessa forma. Vários desses jogadores morreram de cirrose. Como muitos param de jogar e começam a beber, todo mundo achava que morriam de cirrose por causa da bebida. Como eles não sabem que tem hepatite C, eles bebem sem saber que correm riscos. Quando a pessoa bebe, acelera o processo. Como não sente nada, nem desconfia. Só vai sentir quando a coisa já está grave.

ÉPOCA – Jogadores da Seleção Brasileira foram infectados dessa forma?
Drauzio - Até da seleção. Vários da Seleção de 70. Não vou dar os nomes por razões óbvias. Na Bahia, gravamos com jogadores profissionais que jogaram em São Paulo, no Rio, na Bahia. Eles têm um racha de futebol que fazem toda quinta-feira. Colhemos sangue de 22. Quatro ou cinco tinham o vírus da hepatite C e não sabiam.

ÉPOCA – Essa realidade que você constatou indica que o Ministério da Saúde está falhando no combate a essa doença?
Drauzio - Não podemos culpar o Ministério. Os médicos também não pedem o exame. Não pensam nisso. Se eles atendem uma pessoa que tem múltiplos parceiros sexuais, pedem o teste de aids, mas não pedem o da hepatite B. Conversei com o Dirceu Greco, que comanda o programa de aids. No Ministério, a hepatite está no mesmo lugar da aids. O pessoal da hepatite fica bravo com isso. O Ministério argumenta que eles já têm uma estratégia de distribuição de medicamentos da aids e essa estrutura serviria também para a atenção à hepatite. As associações de hepatite dizem que isso faz com que o interesse fique todo voltado para a aids porque é uma coisa que aparece muito mais. A hepatite não tem a importância que deveria ter. É difícil. Os dois argumentos valem. O fato é que no SUS temos apenas 100 mil portadores do vírus em acompanhamento. Apenas 20 mil estão em tratamento. É muito pouco.

No Brasil, há uma total desinformação sobre as doenças do fígado. Com a nova série, Drauzio dá uma grande contribuição para que isso comece a mudar. Eu também prometo voltar ao assunto.

E você? O que achou do tema da nova série de Drauzio Varella? Conhece alguém que convive com o vírus da hepatite? Quais são as dificuldades enfrentadas? Conte pra gente. Queremos ouvir sua história.

terça-feira, 21 de junho de 2011

EP RIBEIRÃO

Espera por doação de órgãos pode durar cinco anos

HC alega que unificação no sistema estadual prejudicou número de transplantes no interior


20/06/2011 - 21:45
Da redação

A angustiante espera por um doador de órgãos pode durar até cinco anos em Ribeirão Preto. Segundo dados fornecidos pelo Hospital das Clínicas da USP, a cidade tem ao menos 50 pacientes na fila, sendo que um transplante é realizado, em média, a cada 30 dias.

Nessa longa espera está Valdecir Nunes Alves. Há dois anos, ele aguarda por um doador de fígado. Em 47ª no ranking de sua especialidade de atendimento, ele sofre de cirrose, hepatite e hemorragias internas. Certa vez, Alves chegou a ser chamado para uma cirurgia, que foi cancelada de última hora. O órgão teria demorado demais para chegar ao hospital.

“Já tinha sido retirado o fígado de outro paciente havia oito horas e teria pouco tempo para colocar nele”, relata a dona de casa Nilzete Alves Pereira, que diariamente acessa internet na esperança de uma melhora na posição de seu marido. “Tenho muita esperança, se Deus quiser vai dar certo sim”, afirma Valdecir.

Para agravar a espera de pacientes como Valdecir, o HC notifica uma alarmante queda de 50% no número de transplantes realizados este ano em comparação a 2010. A redução no serviço, segundo o chefe do grupo de transplantes do HC de Ribeirão Preto, Orlando Castro e Silva, se deve ao sistema adotado pela Secretaria Estadual da Saúde, em que vigora a mesma lista de espera para pacientes da capital e do interior.

“Sendo um número de candidatos muito superior ao que tem no interior do Estado, quando aparece um doador naturalmente, com a unificação das listas, há um privilégio por receptores de São Paulo”, diz.

O Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto reivindica a retomada do sistema anterior. “Se você imaginar uma central em Campinas, uma central em Ribeirão Preto e uma central em Rio Preto, o direcionamento dos órgãos, do doador ao receptor, será muito mais fácil”, afirma Silva.

Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde nega que haja privilégio na destinação de órgãos para a capital, argumentando que a queda de transplantes aconteceu em todo o Estado e não somente no interior.

http://eptv.globo.com/ribeiraopreto/noticias/NOT,2,2,354970,Espera+por+doacao+de+orgaos+pode+durar+cinco+anos.aspx

segunda-feira, 20 de junho de 2011

REDE BOM DIA

Dia-a-dia

SAÚDE 19/06/2011 19:45
Mais de 40 mil pacientes esperam por um órgão no Brasil
Falta de informação impede que mais famílias autorizem doação

Derla Cardoso
Agência BOM DIA


O caminho para o sucesso das doações de órgãos passa pelo caminho da informação. Mesmo com Segundo o Ministério da Saúde, em 31 de dezembro de 2010, cerca de 47 mil pessoas estavam na fila de espera aguardando um coração, pulmão, rim, córnea, pâncreas e fígado. No estado de São Paulo, o número chegava, no último levantamento, a 12 mil.
Brasil sendo o segundo país do mundo onde mais se faz transplantes por ano, as dúvidas sobre procedimentos impedem o crescimento das operações.

De acordo com o presidente da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos), Ben-Hur Ferraz, a ausência de conhecimento da população sobre o que é morte cerebral é um dos fatores que travam o aumento das doações. “As pessoas precisam entender que a morte encefálica é irreversível. As famílias não compreendem que o ente está morto mesmo com o coração batendo às custas de aparelhos. Nesta hora, a compreensão da morte fica mais difícil, mas é nesse momento que temos que pensar que há uma oportunidade do nosso familiar ajudar alguém mesmo após a morte.”

Para Ferraz, outro complicador é o fato de algumas pessoas serem contra a doação por acreditarem que vão precisar dos órgãos na outra vida. “É preciso ter a consciência de que nenhum destes órgãos se manterá vivo para outro plano e que há pacientes vivos que poderiam viver com eles”.

O médico ainda afirma que o esclarecimento dos familiares é fundamental, pois são eles que decidirão se a doação acontecerá ou não. “Se a pessoa tem vontade de doar, deve avisar e conversar com todos em vida, pois no momento da decisão será mais fácil aceitar a doação”, orientou o profissional.

Solidariedade

Mobilização. Foi o que o grupo de amigos de Murilo Monção fizeram nos últimos meses. O jovem descobriu que tinha leucemia em junho do ano passado e morreu em março de 2011. Durante o período em que o paciente esteve internado, os colegas, familiares e conhecidos mergulharam nas campanhas de doação de medula óssea na tentativa de encontrar um doador para o rapaz.

Para uma das amigas e militantes da causa, Carolina Maceira, as pessoas não fazem o cadastro para se tornarem doadoras por medo e falta de informação. “Doar medula é simples e se as pessoas fossem mais instruídas mais gente teria a vida salva. Acho que nas escolas deveria haver mais explicações com relação ao tema. Para quem doa não vai fazer tanta diferença, mas para quem recebe é toda a diferença do mundo”, defendeu a publicitária.

Outro amigo que participou das mobilizações para tentar salvar a vida de Murilo foi o analista de logística Denis Gustavo Paschoal, de 29 anos. O jovem contou que os amigos ajudaram numa campanha que chegou a ter 1,4 mil pessoas inscritas para doar medula, mas que nenhuma era compatível com o paciente. “Ele até conseguiu um cordão umbilical compatível nos Estados Unidos, mas teve complicações, pegou uma infecção e veio a óbito antes de receber o transplante. Mesmo assim, nós nos tornamos voluntários da causa e continuamos a participar das campanhas para ajudar outras pessoas.”

http://www.redebomdia.com.br/noticias/dia-a-dia/57598/mais+de+40+mil+pacientes+esperam+por+um+orgao+no+brasil

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O REGIONAL

Últimas Notícias
quinta-feira, 16 de junho de 2011

Hemonúcleo de Catanduva precisa de doadores de sangue


O Ministério da Saúde lançou, nesta semana, uma campanha com o objetivo de aumentar o número de doadores de sangue no Brasil.

A campanha “Essa corrente precisa de você. Doe Sangue” tem como meta atingir quatro milhões de voluntários até o próximo ano.

De acordo com a Assessoria de Imprensa do órgão, esse número representa 2,1% da população. “Atualmente a população envolvida com doação de sangue é de 1,9%”.

O Hemonúcleo de Catanduva também está necessitando de doadores assíduos, que realizem a doação de sangue frequentemente.

Segundo a assistente responsável pela captação de sangue, Francisca Caparroz Vizentini, centenas de pessoas estão cadastradas no Hemonúcleo de Catanduva, mas muitas delas realizaram a doação somente uma vez e não voltaram mais. “Precisamos de doadores para realizarem as doações sempre que necessário”

Ela conta que nos últimos dias as doações estão em um ritmo muito lento. “Há dias que registramos queda de 60% e isso é muito preocupante”.
 
Francisca afirma a importância das empresas mobilizarem os funcionários para a doação e agendarem a doação.
 
“Estamos ligando todos os dias para convocar os doadores. Nos últimos dois dias enviamos mais de 300 cartas pedindo a presença das pessoas no hemonúcleo”.
 
AMPLIAÇÃO
 
O Ministério da Saúde também anunciou a publicação de uma Portaria com novos critérios para a doação de sangue no Brasil e a possível ampliação da faixa etária para doação.
 
A faixa de ampliação atinge jovens entre 16 e 17 anos de idade, com autorização dos pais ou responsáveis e também para idosos com até 68 anos. “A norma anterior autorizava a doação entre 18 e 65 anos de idade”.
 
Francisca afirma que vê o interesse de filhos de doadores a realizarem a mesma ação que os pais. “Acredito que essa medida irá aumentar ainda mais o número dos idosos voluntários, pois muitos chegam aos 65 anos e desejam doar por mais tempo”.
 
NÚMEROS
 
Para manter os estoques de sangue regulares, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que é preciso de 1,5% a 3% da população doem sangue regularmente.
 
Um dos fatores que fazem os hemocentros precisarem cada vez mais das doações é o aumento de 65,3% no número de transplantes realizados no país nos últimos sete anos, os quais precisam de transfusão.
 
Menores de 16 anos Portaria do Ministério da Saúde divulgada anteontem autorizou que jovens entre 16 e 17 anos possam doar sangue, desde que tenham uma autorização dos pais. Pelas regras anteriores, a doação só era possível para maiores de 18 anos.
 
A nova regra foi anunciada pelo ministro Alexandre Padilha (Saúde), que participou anteontem -Dia Mundial do Doador de Sangue- do lançamento da Campanha de Incentivo à Doação de 2011.
 
De acordo com a portaria 1.353, "a orientação sexual (heterossexualidade, bissexualidade, homossexualidade) não deve ser usada como critério para seleção de doadores de sangue, por não constituir risco em si própria".
 
Atualmente, a orientação sexual faz parte do questionário aplicado por diversos centros de doação para a triagem dos doadores.

http://www.oregional.com.br/portal/detalhe-noticia.asp?Not=256458

segunda-feira, 13 de junho de 2011

UOL Notícias

Falta de informação dificulta transplantes no Brasil


13/06/2011 - 12h05
do UOL Notícias

São Paulo - Mais de 36 mil pessoas aguardam hoje no País a tão esperada notícia de que um órgão ou tecido que tanto precisam está disponível para transplante. Este é o caso de Reginaldo Padilha, que se enche de esperança toda vez que um helicóptero pousa no terraço do Instituto do Coração (InCor), onde está internado há quatro meses, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Por conta de seu delicado estado de saúde, Padilha está entre os pacientes prioritários na lista de espera nacional, mas o único coração que apareceu até o momento não era compatível com o seu organismo.

Uma das principais razões da dificuldade enfrentada por Padilha e pelas milhares de pessoas que aguardam um transplante, na avaliação de especialistas, é a falta de informação a respeito do assunto. Em razão de crenças infundadas, aliadas à diminuição das campanhas na mídia, muitas famílias se negam a autorizar a doação dos órgãos dos parentes que faleceram e, dessa forma, deixam de transformar um momento de dor em esperança de vida para outras pessoas.

O cirurgião cardiovascular Fernando Platania, médico de Padilha, aponta as falsas crenças como uma das principais razões que prejudicam o aumento do número de doadores no País. "Vejo esse problema sim, sobretudo entre a população mais humilde, por conta da falta de entendimento e da desconfiança no sistema público."

O médico, que também é coordenador do Departamento de Cardiologia do Hospital Ana Costa, em Santos (SP), destaca que um dos temores mais citados é com relação à morte cerebral. Para algumas famílias, o fato de o coração ainda bater após a declaração de óbito pode significar que a vítima ainda está viva e pode ter salvação. O que não é verdade.

Para o presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), Ben-Hur Ferraz Neto, esse temor se deve à falta de informação clara às famílias. "É diferente para um leigo ter essa compreensão, porque o coração ainda bate, mas às custas de aparelhos e com o único objetivo de manter os outros órgãos viáveis para transplante", explica.

A morte cerebral só é dada como certa depois de exames clínicos mostrarem que o paciente não tem mais reflexos cerebrais e que está incapacitado de respirar por si próprio. Também são realizados testes para confirmar ausência de fluxo sanguíneo e de atividade cerebral. "A legislação brasileira é extremamente rigorosa a respeito da morte cerebral", diz Ferraz Neto.

Além do receio quanto à morte cerebral, há outros temores que levam as famílias a negar as doações, como o medo da deformação do cadáver, o temor de que os órgãos serão vendidos no mercado negro e a desconfiança de direcionamento e privilégio dentro do Sistema Nacional de Transplantes. Ferraz Neto relata até mesmo a negativa de autorizar a doação pelo temor de que o morto precise do coração "para uma outra vida". "Acabam doando até os outros órgãos, mas não o coração", conta.

Em caso de morte cerebral, aparelhos mantêm o coração pulsando para que os órgãos sejam preservados para a doação. No entanto, esse estado não pode ser mantido por muito tempo, e se o coração parar, ele e os outros órgãos ficam impossibilitados para o transplante, porque perdem oxigenação. Se isso acontece, a esperança de vida daqueles que aguardam um órgão na fila diminui drasticamente. Então, apenas tecidos - pele, córneas e medula óssea, entre outros - ainda podem ser doados.

Apesar da longa batalha, Padilha, que está com 47 anos, não perde a esperança e faz planos concretos para o futuro. "O que eu mais quero é voltar à minha vida normal. Quero voltar às minhas caminhadas na praia em Santos, voltar a trabalhar. E mais, ir ao supermercado sem sentir falta de ar".

Desejos simples para um caso tão complexo. Ele sofre de miocardiopatia dilatada idiopática, que faz com que seu coração cresça exageradamente. Para executar os seus planos futuros, Padilha depende da solidariedade das famílias que podem optar pela doação de órgãos.

Humanização

O coordenador do Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde, Heder Murari Borba, reconhece a "grande influencia que o pequeno esclarecimento da população" tem sobre a decisão das famílias. Mas alega, também, que outro fator importante de inibição da doação de órgãos é o mau atendimento que muitos pacientes enfrentam nos hospitais. "Se a pessoa for atendida de maneira humanizada é muito mais fácil a abordagem dos agentes para solicitar o órgão", afirma.

As ações, segundo Borba, devem se concentrar em campanhas que esclareçam as famílias sobre o assunto. "As campanhas devem mostrar a segurança que o processo de transplante envolve e que impossibilita o comércio de órgãos, já que envolve muitas pessoas e exames genéticos", diz. E continua: "Além disso, é preciso frisar o aspecto emocional nas campanhas, mostrando que aquele momento de dor das famílias pode se transformar em alegria para outras pessoas."

As campanhas, aliás, têm relação direta com o crescimento do número de doadores de órgãos no País. O presidente da Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (Adote), Francisco Neto de Assis, cita o caso da jovem Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, assassinada pelo ex-namorado em outubro de 2008, após ser mantida refém, em Santo André (SP). Coração, pulmão, rins, pâncreas, fígado e córneas ajudaram a salvar vidas. Coincidentemente, a média mensal de transplantes no Estado de São Paulo aumentou 30% naquele mês. "Quando há campanha, ou quando o assunto está na mídia, dá para notar o aumento de doadores", diz.

Notícias ATX-BA

CAMPANHA DA PROPEG PARA ATX-BA - BAHIA RECALL 2011
"QUEM DOA ÓRGÃOS MULTIPLICA A VIDA"

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Imprensa - Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais

Padilha diz que preconceito é entrave para tratamento de aids

9.6.2011

Ministro do Brasil discursa na principal reunião da ONU sobre a doença em nome de outras seis nações. Além do combate a discriminação, defende a redução dos preços dos medicamentos para avanços no enfrentamento global da epidemia.

Em seu discurso na principal reunião da Organização das Nações Unidas sobre aids nesta quinta-feira (9), em Nova York, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, colocou o combate ao preconceito e a maior atenção às populações vulneráveis como pontos fundamentais para o avanço da política global de enfrentamento da epidemia. Segundo ele, a discriminação é um dos entraves para o acesso ao tratamento da doença. Padilha, ao falar aos representantes dos estados-membros da ONU, defendeu ainda estratégias para redução dos preços dos medicamentos como forma de ampliar a oferta dos produtos, principalmente nos países mais pobres.

Para Padilha, o acesso universal a prevenção e tratamento são instrumentos essenciais para o enfrentamento da aids no mundo, mas não são suficientes. “Eles devem ser sistematicamente acompanhados de ações de promoção e proteção dos direitos humanos. O estigma e a discriminação, muitas vezes, impedem as pessoas de procurar por tratamento e contribuem para a propagação da doença”, destacou o ministro. A Reunião de Alto Nível sobre Aids segue até sexta-feira (10). No encontro, os estados-membros da ONU decidem as ações futuras de resposta à epidemia após 30 anos da descoberta da doença.

O Brasil, ao lado de representantes de outros 30 países, defendeu a ratificação de um compromisso coletivo para combater a aids. A expectativa é que os governantes aprovem, ao final do encontro, uma declaração reafirmando os compromissos atuais e com novas ações para reduzir a incidência da doença no mundo. O documento deve guiar os países na resposta ao HIV para os próximos cinco anos. Na abertura do encontro, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, defendeu a união de esforços para pôr fim a transmissão da aids em dez anos. “É o nosso objetivo: o fim da aids dentro de dez anos, zero infecções novas”, reforçou.

A meta é avançar ainda mais em prevenção, no acesso a medicamentos e na redução da transmissão durante o parto – áreas em que houve resultados positivos – e traçar compromissos para desafios futuros, como o aumento da proporção de mulheres infectadas, a inclusão social de quem vive com HIV e a prevenção focada nos grupos mais vulneráveis.

REFERÊNCIA INTERNACIONAL – O Brasil desempenha papel de liderança nas discussões e participa de todas as plenárias da reunião. O Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais é referência internacional pelo acesso universal a exames de diagnóstico e tratamento, além da distribuição de preservativos e campanhas anuais de prevenção. O Ministério da Saúde, por meio da rede pública, disponibiliza gratuitamente 20 antirretrovirais – o que representa investimento na ordem de R$ 850 milhões por ano na aquisição dos medicamentos. Atualmente, 210 mil pacientes estão em tratamento.

Ao defender estratégias para redução dos preços dos medicamentos, o ministro Padilha ressaltou a experiência do país na negociação com as empresas farmacêuticas e na transferência de tecnologia para produção nacional dos medicamentos. Estão em andamento quatro parcerias entre empresas públicas e privadas para a fabricação de antirretrovirais no país. Entre as vantagens existentes nesse tipo de acordo, além da economia na compra dos produtos, está o desenvolvimento tecnológico do país.

“Ainda estamos lutando para superar os desafios à sustentabilidade financeira do nosso programa que visa garantir o acesso universal à assistência farmacêutica. Medicamentos mais acessíveis, a preços justos, de acordo com a situação econômica do país, constituem um dos pilares dessa política”, disse Padilha. No apoio a outros países, o Brasil possui parceria com Moçambique para a construção de uma fábrica de remédios antirretrovirais.

O ministro Padilha falou em nome de outras seis nações – França, Indonésia, Noruega, Senegal, África do Sul e Tailândia. Esses países participam da iniciativa de Política Externa e Saúde Global, grupo liderado pelo Brasil.

Imprensa - Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais (imprensa@aids.gov.br)
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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Secretaria de Saúde do Estado da Bahia - COSET

Critérios de exclusão automática de receptores da lista única de espera para transplantes.

em 03/06/2011 15:13:46
A Central de Transplantes do Estado da Bahia em uso de suas atribuições solicita a todas as equipes transplantadoras bem como a todos os pacientes ou responsável legal, que encontram-se inscritos na lista de transplantes do Estado da Bahia que consultem os critérios de exclusão automática de repectores, descrito na Portaria GM 2600 de Outubro de 2009.

Critérios remoção automática para Córnea:
Semiatividade superior a 120 dias;
Paciente não quer transplantar;
Acumulo de 5 recusas por parte da equipe à oferta de tecidos pela CNCDO, de doadores diferentes e em datas distintas.

Critérios remoção automática para Fígado:
Acumulo de 5 recusas por parte da equipe à oferta de tecidos pela CNCDO, de doadores diferentes e em datas distintas.
Semiatividade superior a 365 dias;

Critérios remoção automática para Rim:
Acumulo de 5 recusas por parte da equipe à oferta de tecidos pela CNCDO, de doadores diferentes e em datas distintas.
Semiatividade superior a 365 dias;

http://www.saude.ba.gov.br/transplantes/modules/news/index.php?storytopic=8

domingo, 5 de junho de 2011

Consultor Jurídico

Texto publicado quarta, dia 1º de junho de 2011
Notícias


TJ paulista absolve médicos suspeitos de homícidio
Por Fernando Porfírio

O Tribunal de Justiça de São Paulo manteve a absolvição sumária de três médicos suspeitos de homicídio na modalidade de dolo eventual. Eles eram acusados de terem transplantado um fígado para uma paciente sem que o órgão estivesse em condições para cirurgia. O transplante foi feito em maio de 2003, no Hospital Israelita Albert Einstein, um dos centros credenciados para o transplante de fígado na capital paulista. A decisão, por votação unânime, foi tomada nesta terça-feira (31/5), pela 4ª Câmara Criminal.

A defesa do médico Sérgio Mies argumentou que não se pode afirmar que os médicos agiram de forma irresponsável, assumindo e consentindo o risco de provocar a morte da paciente, quando o intuito da equipe médica era salvar a doente.

A paciente morreu quatro meses depois da cirurgia. Sérgio Mies, Paulo Celso Bosco Massarollo e Carlos Eduardo Sandoli Baía — os dois últimos defendidos pelo advogado José Luis Oliveira Lima — integravam a equipe responsável pelo transplante. A sentença de primeira instância, assinada pelo juiz Cassiano Ricardo Zorzi Rocha, da 5ª Vara do Júri, absolveu os médicos da acusação de que, ao fazerem o transplante de fígado, agiram em solidariedade e assumiram o risco de provocar a morte da vítima Téa Fentanis, de 56 anos.

Insatisfeita com o resultado do julgamento, a assistente de acusação entrou com recurso no Tribunal de Justiça para cassar a sentença e submeter os suspeitos a júri popular. Segundo a acusação, o fígado havia sido rejeitado pelos médicos de 74 pacientes antes de chegar à mulher. O órgão ainda teria grande quantidade de gordura e estaria fora do corpo do doador por quase 12 horas.

Os argumentos usados foram os de que a vítima não estava em estado terminal e que os médicos assumiram o risco de enxertar na paciente um órgão em condições duvidosas de aptidão para transplante. Segundo a advogada que atuou como assistente do Ministério Público, o fígado apresentava alto índice esteatose (nível de gordura, que estaria em patamar de 40% a 50%), além de apresentar isquemia (ter ficado muitas horas foram do corpo humanos depois de ser retirado do doador).

“Evidente que a operação de transplante é ato cirúrgico de risco”, afirmou o desembargador Edison Brandão, relator do recurso. “Assumir o risco de produzir o resultado morte é inerente a qualquer procedimento cirúrgico, ainda mais quando o paciente possui quadro clínico com tantas patologias como a vítima”, analisou o relator.

Para Edison, no entanto, a prova aponta no sentido de que o transplante foi bem sucedido. O fígado colocado no corpo da vítima funcionou, não ocorrendo a disfunção primária, e a paciente sobreviveu alguns meses após o transplante. Na conclusão do relator, o órgão implantado na vítima não estava condenado, como alega a assistente de acusação. Segundo Brandão, o fígado enxertado encontrava-se em condições adequados para ser transplantado, não assumindo os apelados o risco de produzir o evento morte da ofendida.

A turma julgadora entendeu que os médicos ouvidos no processo foram categóricos em informar que caso o fígado fosse de má qualidade, com alto grau de gordura, teria ocorrido a disfunção primária, ou seja, não funcionamento após a implantação, com graves consequências pós-operatórias exigindo, quase sempre, retransplante de caráter de urgência.

“Se houve algum risco assumido pela equipe médica integrada pelos apelados, foi o risco de discordar das informações passadas por telefone pela Central de Transplantes e aceitar o órgão, enquanto todas as outras equipes o recusavam, apostando no exame visual do órgão que foi feito pelo apelado Paulo Celso, tido como um dos mais experientes de sua área”, destacou o relator.

Sobre a qualidade do órgão transplantado e a recusa dos médicos de outros pacientes em recebê-lo, a turma julgadora concluiu que nenhuma equipe viu o fígado, só o recusando com base em informação da Central de Transplante, que dava conta de que o nível de gordura era de 40% a 50%. O dado foi contestado pela biópsia feita pela equipe médica que fez o transplante. O resultado concluiu que o nível de esteatose era de 10%.

Fernando Porfírio é repórter da revista Consultor Jurídico

sábado, 4 de junho de 2011