30/12/2009 às 19:13 ATUALIZADA EM: 30/12/2009 às 20:39
João Sereno: “Tinha nas mãos uma ferramenta de trabalho e não sabia”
Danile Rebouças - A TARDE
Thiago Texeira l Ag. A TARDE
João emociona-se quando lembra de sua história: “Hoje vivo intensamente”
A voz é poética, repleta de simpatia. O espírito é jovem, de uma pessoa disposta a viver cada segundo. Ivan Ferreira da Silva, mais conhecido como João Sereno, saiu de Juazeiro, no norte da Bahia, para o mundo. Ele está com 48 anos, tem quatro filhos. Mora em Salvador e Juazeiro, e tem o palco como a segunda casa. Mais do que músico que canta belezas nordestinas, João Sereno é um vitorioso. Fez um transplante de rim e aprendeu a valorizar as coisas simples, tendo sempre a música como ponto de apoio.
Ele recorda com alegria do tempo de criança, quando cantava nas ruas de Juazeiro e aos 11 anos virou atração de circo. Tocava com um violão que era maior do que ele – contraste que chamou a atenção dos circenses. João aprendeu sozinho a lidar com o instrumento de corda e começou a tocar em conjuntos musicais. “Mas era um curtidor, não queria saber de nada”, diz.
O valor ao instrumento foi dar somente no período que chama de escuridão da sua vida. Foi quando se viu internado no hospital, sem conseguir urinar por causa de um problema renal. No primeiro diagnóstico, não acreditou, ignorou o fato. Somente após sofrer um derrame no olho esquerdo, aos 28 anos, tomou consciência que precisava se tratar.
Do interior veio para a capital. Passou a fazer hemodiálise. Emagreceu mais de 20 quilos. Viu a renda da família reduzir. Seu avô, o mestre de caldeiraria José Ferreira (Zé Sereno), que lhe criava, vendeu os terrenos para manter o tratamento do neto. João morou com a mãe e sua esposa da época, até que toda a família se viu obrigada a vir para a capital com a suspeita de seu avô que estaria com câncer.
Nesse período de “aperto e desespero”, João resolveu dar rumo à sua vida e fazer da música profissão. “Vi que tinha nas mãos uma ferramenta de trabalho e não sabia”, diz. Foi no Bar Avarandado, no Engenho Velho da Federação, onde começou. Chegou e se ofereceu para tocar. Após mostrar seu som, foi aceito. A partir daí não parou mais. Até mesmo para a hemodiálise levava a viola e animava os colegas.
João fez hemodiálise por quatro anos quando descobriu que sua irmã tinha o rim compatível com o seu e estava disposta a lhe doar. A cirurgia foi um sucesso. “No início da hemodiálise, percebia que ele ficava muito triste, depois a música o fez ver que podia fazer as coisas que gostava mesmo doente. Ele ficou feliz demais quando lhe disse que faria a doação”, lembra a irmã Suzana Ferreira.
Hoje, João vive da música e a encara com mais responsabilidade. Emociona-se quando lembra de sua história e agradece a Deus por tudo que passou e aprendeu nesse período. “Era difícil eu olhar para o céu, hoje eu o contemplo. Vivo intensamente, com mais detalhes. Acho que todos devem fazer isso e aproveitar o máximo cada momento”, diz.
Música - João Sereno dá um show de valorização da cultura nordestina nos palcos. É também compositor. Toca violão, guitarra e o que mais for preciso: baixo, cavaquinho, triângulo, percussão. Tem parcerias com Adelmário Coelho, Virgílio, Zelito Miranda, Dominguinhos, entre outros. Tem cinco discos: Sem rótulo (gravado enquanto ainda fazia hemodiálise), Fazendo forró, Intenso, João Sereno e convidados e Somgon. Já tocou na França e na Itália, além de rodar pelo Brasil.
Atualmente, João investe em novo ritmo musical, o SomGon. Trata-se de um som advindo de um foguedo popular. “No foguedo é uma ou duas violas e dois pandeiros que fazem o som. Eu acrescentei a guitarra, baixo e bateria, dando uma batida nova, batizada de SomGon”, explica. E acrescenta: “Descobri que nasci para fazer música”.
http://www.atarde.com.br/cidades/noticia.jsf?id=1325583
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