Publicada: 02/04/2011
Atualizada: 02/04/2011
Ivan de Carvalho
Isso de faltarem na Bahia – suponho que também faltem em outros estados, ainda que não dê para afirmar que faltam em todos – remédios que deveriam ser fornecidos pelo SUS, por intermédio e sob a responsabilidade da Secretaria Estadual de Saúde, não é, de modo algum, uma novidade. Ora faltam uns, ora faltam outros, um sufoco para os pacientes que precisam deles.
Alguns são medicamentos caros, que os pacientes não têm condições de comprar. Outros são remédios que simplesmente não são encontrados no mercado, nas farmácias, porque de consumo restrito, não havendo interesse para essas casas comerciais tê-los em estoque. Outros ainda, embora em limitadíssimo número, são remédios importados (porque não produzidos no Brasil), geralmente muito caros e quase impossíveis de serem importados por um particular, mesmo que este tenha o dinheiro para pagar o preço.
Nesse contexto, é de esperar que, obedientes à Constituição da República, à lei e às normas regulatórias do Sistema Único de Saúde, a autoridade responsável – no caso, a Secretaria Estadual de Saúde, na sua função de integrante e executora do SUS para o fornecimento de medicamentos – tenha um estudo completo dos medicamentos de que precisa ter em estoque e da frequência com que é necessária a renovação de estoque e se guie por esse estudo para não deixar que faltem medicamentos para pacientes que precisam deles para continuar vivos.
É o caso de medicamentos para quem tem órgão ou outros tecidos transplantados. Há o problema básico da rejeição, a ser evitada por imunossupressores, bem como outros problemas, que podem exigir outros remédios.
A propósito, a jornalista Aleksandra Pinheiro fez, na quinta-feira, em seu twitter, como relatou ontem com destaque o site Política Livre, um relato emocionado sobre o drama experimentado por transplantados na Bahia, acrescentando um apelo ao governador Jaques Wagner e ao secretário da Saúde, Jorge Solla, para que determinem imediatamente a compra de azatioprina, medicação indispensável e que o estado não tem fornecido há muitos dias.
“Denúncias feitas, matérias de TVs, jornais, etc. e o secretário Jorge Solla não tem a dignidade de mandar comprar a azatioprina”, desabafa, no limite da contenção de linguagem, a jornalista em seu twitter. E direciona a denúncia para o microblog do ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Aparentemente, o que desencadeou a indignação da jornalista Aleksandra foi o anúncio do governo de que vai criar uma “organização de procura de tecidos e órgãos” para transplantes.
“Eu leio nisto uma palhaçada sem igual. São Paulo transplanta órgãos, restabelece a vida das pessoas e o governo da Bahia deixa pacientes perderem transplantes por falta de medicação”, comentou ela no seu microblog. E disse mais: dirigiu um desaforo ao ministro:
“Se é este o Ministério da Saúde que o senhor pretende liderar, @padilhando, comece a contar os mortos”; lamentou que o Ministério Público baiano “só dorme” e que, portanto, iria ao Ministério Público Federal para ver se este aciona o Ministério da Saúde para resolver a falta de remédios na Bahia.
Ontem, a presidente da Associação dos Transplantados da Bahia, Márcia Chaves, confirmou a denúncia da jornalista Aleksandra Pinheiro, afirmando que a azatioprina falta na farmácia do estado em Salvador desde o dia 14. Segundo Márcia Chaves, na Bahia, cerca de duas mil pessoas precisam usar o medicamento.
É. Não dá para deixar como está.
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